Foi tensa a véspera do anúncio do pacote do governo federal desenhado para tentar devolver algum gás à atividade econômica sem comprometer o ajuste fiscal. Como não tem instrumentos na macroeconomia, a saída foi focar em medidas microeconômicas – algumas tão "micro" quanto regrar o prazo de pagamento nas compras no cartão. É um esforço para combater o pessimismo e a rejeição, mas não pode ser escudo para as explicações necessárias sobre os episódios relatados em delações.
A saída do assessor pessoal de Michel Temer, José Yunes, um dos citados no depoimento do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho, espalhou boatos sobre renúncia de outros auxiliares do presidente e até de reforma ministerial. O barulho foi tanto que forçou um desmentido. E o dia que havia avançado sob tensão terminou com a alta de juro nos Estados Unidos – dentro do previsto, mas fez o dólar subir depois de dias de recuo – e o comunicado de que a Braskem, dona do polo petroquímico no Estado, fechou acordo de leniência, no qual se compromete a expor todos os "fatos apurados até o momento que envolvem a Braskem no contexto da Operação Lava-Jato".
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Embora não traga grandes sustos imediatos, a alta no juro americano tende a se acentuar caso o presidente eleito Donald Trump siga o caminho indicado até agora. Será mais um elemento para tensionar a política e a economia. Pode haver algum alívio se houver medida inteligente o suficiente para começar a desatar o que vem sendo chamado de "síndrome do calote". Seria um grande alento para os negócios estrangulados por dívidas. Pelo que foi filtrado até o início da noite de ontem, porém, parecia mais um tradicional "pacote natalino", com um conjunto de ações importantes mas não necessariamente coordenadas.
Foi no meio dessa fumaceira que o presidente do BRDE, Odacir Klein, foi recebido pelo presidente Michel Temer, com a diretoria do banco de desenvolvimento regional. Além de pedir o pagamento de créditos devidos ao banco pela Secretaria do Tesouro Nacional, Klein mencionou a possibilidade de "fundos que venham a ser criados para o Sul" – no meio da crise, a antiga ambição de ter algo parecido com os recursos mais baratos disponíveis no Norte e no Nordeste parece miragem. Mas são dias em que o improvável se materializa e o que parecia impossível vira a hipótese mais factível.