Até agora, havia reações isoladas. A pesquisa que mostrou risco real e imediato – a eleição é em cinco dias – de vitória do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos mudou o volume do temor. A reação maciça do mercado por dois dias consecutivos – ontem o Brasil só ficou fora porque era feriado – foi seguida de um movimento sólido de economistas. Em carta publicada no The Wall Street Journal, principal publicação especializada dos Estados Unidos, 370 profissionais da área, incluindo oito premiados com o Nobel, abandonam as meias-palavras e pedem, diretamente, que os americanos não votem em Donald Trump.
É verdade que, antes, outros 306 economistas criticaram as propostas de Hillary Clinton. Mas a liderança da democrata nunca havia provocado tamanha onda de aversão ao risco, nos mercados, e preocupação com o futuro da economia global entre seus teóricos.
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Para esses dois grupos, o que dá medo não é o preconceito, a misoginia, a rudeza do candidato republicano. São seus conceitos. Não espanta a intenção de construir um muro contínuo na fronteira com o México – e fazer o outro país pagar por isso –, nem a esperteza de usar as brechas tributárias para não pagar impostos por mais de uma década.
A maioria das justificativas envolve assuntos internos. Mas algumas explicam por que a onda de reação se disseminou pelo planeta, apontando a combinação de protecionismo, distorção e ignorância em relação ao comércio internacional. É aí que o Brasil pode ser mais afetado pelo que os americanos já chamam de "trumpismo". O México é seu alvo mais direto, mas qualquer economia estrangeira pode esperar tratamento igual ou pior.
Trump não é a única expressão do desconforto de grupos crescentes com a nova desordem mundial, mas o que tem mais impacto. Para os 370 economistas, "uma escolha perigosa e destrutiva". Para o mercado, o que mais causa medo: um imprevisível no poder.