No ano passado, Ademar Schardong, presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef-RS) já desejava ''Feliz 2019''. Era considerado pessimista. As últimas semanas têm dado razão a Schardong. A recuperação virá – em alguns pontos, já começa a se desenhar –, mas será lenta.
– Desde 1982, vivi todas as crises enquanto criava um banco (Sicredi). Nunca pude me dar ao luxo de acreditar, tinha de saber – explica, sobre o ceticismo.
Nas contas de Schardong, o corte determinado pelo teto das despesas será de 2% ao ano. É um ritmo lento para o tamanho da encrenca do Brasil – déficit previsto para R$ 170 bilhões neste ano, com risco de chegar a R$ 240 bilhões no próximo. Ontem, o Brasil ultrapassou, pela primeira vez, os R$ 3 trilhões – valor difícil até de imaginar – só em dívida pública federal, resultado de crescimento de 3,1% entre agosto e setembro. A previsão do Tesouro é de que feche o ano entre R$ 3,1 trilhões e R$ 3,3 trilhões.
Apesar de considerar que o teto faz parte da arrumação nas finanças públicas, Schardong não está entre os que douram a pílula:
– O Brasil terá de gastar menos. Diante da atual qualidade dos serviços públicos, impossível esperar outra coisa senão piora.
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Além do programa de concessões e privatizações, expectativa de retomar projetos com capital externo e interno, Schardong avalia que os baixos estoques, especialmente de bens de capital, podem ser um dos gatilhos de uma recuperação de longo prazo.
Embora não aposte na inflação no centro da meta (4,5%) para 2017, Schardong estima que uma alta abaixo do teto no próximo ano (6%) permite sonhar com um corte de quatro pontos percentuais no juro básico, para cerca de 10% ao final de 2017. Para que o país volte à renda pré-crise, estima, serão necessários cerca de 10 anos. Se nada sair fora de esquadro, não será uma década de lamentações, alenta, porque os indicadores da vida real estarão se inclinando para cima, não para baixo. Lentamente, mas retomando.