Não é possível sonhar com reação, muito menos com redenção. Mas é indiscutível que a abertura de 1,5 mil vagas de trabalho no país que acumula 12 milhões de pessoas sem emprego é boa notícia. Demorou, veio em número bem inferior ao inicialmente previsto, mas foi finalmente destravado o processo de contratações para a construção e montagem dos módulos das plataformas P-75 e P-77, no Estaleiro Honório Bicalho, em Rio Grande.
Neste momento, 300 pessoas já trabalham no local e haverá ainda mais 1,2 mil vagas diretas no trabalho. Conforme a empresa, é possível estimar mais 3 mil postos de trabalho indiretos na cidade portuária. A empresa não confirma, mas como a Petrobras tem pressa na entrega das plataformas, que serão usadas na exploração da área do pré-sal, a perspectiva é de que o trabalho esteja pronto em cerca de dois anos.
O caso das duas plataformas é um símbolo do auge e do declínio da indústria naval no Brasil e no Rio Grande do Sul. O contrato foi anunciado com pompa presidencial em setembro de 2013, enfrentou um impasse por efeitos da Operação Lava-Jato – a Petrobras bloqueou aditivos que a empresa considerava imprescindíveis – e quase tudo foi parar na China. Não foi tudo, mas boa parte. Ficou no Estado metade dos empregos originalmente previstos. A plataforma que terá mais desenvolvimento chinês será a P-75, mas mesmo assim terá integração final em Rio Grande.
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Para lembrar, a QGI era o nome original do consórcio formado por Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás, mas a segunda entrou na recuperação judicial do grupo Inepar. Restou a primeira, que agora promete dar prioridade à mão de obra local – muitos recursos, inclusive públicos, foram investidos na formação de profissionais na cidade.
As contratações em Rio Grande estão mais para pausa no cenário de cortes de vagas do que para retomada, como reforça o resultado da produção industrial de agosto, com a inesperada queda de 3,8%. Faz uma grande diferença, especialmente para os trabalhadores que vão se reencontrar com salário fixo, benefícios e segurança, ao menos temporária.
O que há pela frente na história da retomada da construção naval é um grande ponto de interrogação. Para acelerar e baratear a montagem de plataformas e demais equipamentos, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já adotou a flexibilização na exigência de conteúdo nacional, que criou espaço para o ressurgimento dessa indústria. O problema é que essa regra também criou espaço para licitações viciadas e o propinoduto que ajudou a mergulhar o país na crise. Pode ser apenas uma pausa. Mas vai ajudar muita gente a voltar a respirar.