A ascensão meteórica – neste caso, o clichê se aplica à perfeição, porque a queda foi tão rápida quanto o surgimento – de Eike Batista sempre despertou suspeitas. Além do estilo envolvente e audacioso do empresário, a explicação passaria por algum tipo de incentivo público para seu império de papel. A fase Arquivo X da Operação Lava-Jato tenta estabelecer essa conexão, que poderá, caso comprovada a intermediação de propina apontada em depoimento de Eike, comprometer o núcleo duro dos governos Lula e Dilma.
Guido Mantega não é um operador oportunista, que se aproximou do PT como mariposa atraída pela luz do poder ou pelo acesso facilitado a meios de enriquecimento. Até emplacar como ministro mais longevo em período democrático no Ministério da Fazenda, era visto até com reticências, no núcleo mais operacional do partido, por ser visto como um teórico, um acadêmico, não um formulador e, muito menos, como um facilitador.
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A prisão de Mantega é um passo na tentativa de comprovação da denúncia de corrupção sistêmica. Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, o depoimento de Eike seria comprovado por quebra de sigilos que rastreariam o caminho dos R$ 5 milhões pagos a título de propina. Perto do tamanho dos contratos – a montagem de duas plataformas anda pela casa do bilhão –, é um valor pequeno. A questão é estabelecer a conexão. Caso fique comprovada, é mais um tiro fatal na política de conteúdo nacional, que abriu espaço para esse tipo de negociação.
Uma questão a ser esclarecida é o motivo do depoimento espontâneo de Eike ao Ministério Público Federal. Entre os motivos da queda do império X – o empresário costumava batizar suas empresas com um X no final por acreditar que o símbolo da multiplicação faria bem aos negócios –, sempre é citada a suposição de que as portas do governo teriam se fechado para ele. No relato, Eike descreve a complexa operação de transferência de recursos em detalhes, mas há um trecho que chama atenção por mostrar como a burocracia criada para tentar evitar ilícitos é ineficaz. Veja o trecho:
''então teve que voltar, porque hoje em dia, vocês sabem muito bem, senão tiver a papelada 100% correta o dinheiro volta, não tem conversa. O dinheiro voltou para mim e aí em seguida eles instrumentaram, foi em abril, em abril ela voltou para Shellbill, que é essa empresa que está ai na mídia, uma das razões que a gente está aqui (inaudível) quer explicar isso de uma maneira transparente para que os senhores (...)'' .