Admitir a possibilidade de reduzir preços dos combustíveis em meio a uma das mais severas crises da história da Petrobras pode parecer estranho, mas a estatal tem bons motivos econômicos para estudar a hipótese. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), que acompanha a política de preços de gasolina e diesel há décadas, estima que atualmente os brasileiros estão pagando pela gasolina 20% acima do valor de referência internacional e, no caso do diesel, 40% acima do preço que baliza os preços globais.
Ruim para o bolso dos consumidores, a equação é boa para a Petrobras, que precisa arrecadar tudo o que puder para enfrentar um pesado endividamento, argumenta Pires. A formação desse ''prêmio'', como é chamado no mercado, é que os governos anteriores frearam aumentos quando a cotação do petróleo disparou, mas também não repassaram baixas quando os valores do mercado global caíram praticamente à metade.
– Quanto maior o prêmio na venda, melhor para a Petrobras, porque facilita a desalavancagem (redução do endividamento em relação ao patrimônio líquido).
No entanto, como há gasolina mais barata à disposição no Exterior, importadores e distribuidoras estão comprando lá fora para vender aqui dentro, aos mesmos preços da Petrobras ou pouco inferiores, e estão roubando mercado da estatal. Além disso, a recessão reduziu o consumo de combustível. A combinação dos dois fatores faz com que a Petrobras esteja com sobras de combustível nos estoques, explica Pires. Essa janela de importação provoca ainda outras distorções de mercado, como a compra de solvente no Exterior para ser usado na mistura da gasolina.
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Assim, para reequilibrar o mercado, recuperar fatias perdidas e restringir as fraudes, a estatal poderia reduzir em até 10% o prêmio (diferença a mais em relação à referência internacional) na gasolina e em até 15% no diesel e ainda manter alguma recomposição de caixa, avalia Pires.
Quanto maior o prêmio, melhor para a Petrobras, mas há outros dois fatores a pesar nessa decisão. Um é o macroeconômico, porque a redução dos preços dos combustíveis ajudaria a desacelerar a inflação, essencial para permitir a redução do juro e, assim, dar a partida da recuperação da economia. Outro é político: sempre fica bem para o governo de plantão baixar valores dos combustíveis.