Se uma das consequências do impeachment de Dilma Rousseff seria eliminar a incerteza sobre quem está no comando do país, algo parece ter dado errado. Houve a cassação, mas a votação em separado da perda do mandato e da inabilitação para o serviço público só ajudou a abrir novas interrogações – e ações no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em vez de encerrar o arrastado processo político que paralisou decisões, o julgamento abriu novas frentes de disputa. Com o presidente Michel Temer em Hangzhou, na China, para participar da reunião de cúpula do G-20 entre domingo e segunda-feira, a batalha político-judicial levou a certo vazio no poder tão ferozmente disputado.
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Francamente hostilizada por todo o mercado financeiro e por maciça fatia do empresariado, Dilma havia perdido as condições objetivas de governar. O que ocorreu, logo depois de sua destituição, é que seu substituto não ocupou o espaço por ter outras prioridades. Diante dos constrangimentos da economia brasileira, tanto pública quanto privada, uma viagem ao Exterior neste momento pode ser oportuna – é uma chance de mostrar abertura para investidores internacionais –, mas o cenário interno ainda confuso foi na bagagem.
Até agora, a "reemergência dos emergentes" já referida pela coluna trouxe para o Brasil apenas capital especulativo. Fez a bolsa subir, o dólar cair, mas fora os ganhos gerados pela negociação de papéis – o que não é pouca coisa –, não deixa outras heranças. É fruto mais das condições relativas de juro e câmbio do que propriamente de entusiasmo com o futuro da economia brasileira.
A viagem à China é uma oportunidade de expor a nova fase do Brasil, aproveitar a concentração de olhares na cidade histórica de Hangzhou para atrair potenciais interessados no programa de concessões e privatizações que o governo pretende lançar em setembro.
O anfitrião é um país fechado ao capital externo e, ao mesmo tempo, o maior investidor do mundo. Os poucos negócios negócios com capital externo fechados neste ano no Brasil tiveram recursos asiáticos envolvidos.
Então, o problema não é Temer estar na China nesta encruzilhada de poder no Brasil. Mas alianças mal explicadas e consequências imprevisíveis têm o efeito contrário ao esperado pelo desfecho do processo de impeachment. Para um presidente que precisa buscar legitimação apontando uma saída para a crise, o vazio aberto depois de sua vitória no Senado acabou ficando desconfortável.