Nesta quarta-feira, o governo do Rio Grande do Sul vai tentar explorar opções para manter as operações do Badesul, agência de fomento que teve nota rebaixada a zero pelo BNDES no dia 14 deste mês. Como o banco, até agora, tem carteira de crédito 98,7% dependente dos repasses da instituição federal, pode ficar restrito a administrar liquidez – ou, considerando a maior exposição a inadimplência do que a média, à falta de – e recolher pagamentos para devolver ao BNDES para que sua situação não seja ainda mais comprometida.
Luiz Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, pondera que o banco não está condenado a fechar as portas, mas tem, de fato, poucas opções para manter as operações. Como sua dependência dos repasses do BNDES é elevada, teria de recorrer a outra fonte de recursos de longo prazo. Como se sabe, essas fontes, no Brasil, são escassas. Uma das poucas opções, como o banco já tentou há algum tempo, sem sucesso, seriam linhas da Caixa Econômica Federal, mas bem menos robustas do que as do BNDES. Outra alternativa, de execução ainda mais complexa, seria recorrer ao sistema financeiro internacional. Nesse caso, além de correr risco cambial – e elevar o nível de exposição da instituição financeira, a essa altura, não seria uma boa ideia –, o Badesul teria de passar por um crivo no qual dificilmente seria bem-sucedido frente à situação atual.
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A Austin era responsável pela classificação de risco (rating) do Badesul até há dois anos, mas o contrato foi descontinuado. Na avaliação de Santacreu, a instituição não está condenada a fechar as portas porque ainda tem certa margem no índice de Basileia. O dado atual é de 14,74%. Isso significa que, para cada R$ 100 emprestados, o banco tem R$ 14,74 de patrimônio, em linha com a média do sistema financeiro nacional. O banco só ficaria impedido de atuar pelo banco central caso esse número caia abaixo de 11%. Mesmo que o Badesul não recupere os R$ 140 milhões concedidos em empréstimos expostos a calote, o analista da Austin projeta que esse limite não seria ultrapassado.
Soluções ''caseiras'' – incorporar o Badesul ao Banrisul ou ao BRDE – também seriam de difícil execução. No primeiro caso, uma carteira de crédito com o nível de problemas que o banco de fomento tem nesse momento representaria problemas tanto para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), porque o Banrisul tem ações negociadas no mercado, quando com os atuais acionistas. No BRDE, a dificuldade seria quebrar a proporcionalidade dos três Estados do Sul que compartilham seu controle, cada uma com aproximadamente um terço do total. Como consolo, Santacreu pondera que os R$ 140 milhões de créditos de recuperação incerta equivalem, hoje, a 3% da carteira de R$ 3,3 bilhões do Badesul. Ou seja, a instituição está em situação difícil, mas não à beira do colapso.