Balões de ensaio são uma fórmula usual de testar mudanças, mas o governo Temer poderia ter percebido, a essa altura, que, em termos de popularidade, tem um passivo a resolver, não um ativo disponível para despender. A forma como estão sendo filtradas as informações sobre a reforma trabalhista ergue mais resistência a algumas mudanças que já foram defendidas ao menos por parte do sindicalismo no Brasil. Ao falar em aumento de jornada de oito para 12 horas em reunião com sindicalistas nesta quinta-feira, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, adicionou pimenta ao assunto. Mesmo que tenha assegurado a manutenção da carga semanal de 48 horas, inflamou a conversa.
Que o formato da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), desenhado nos anos 1940, exige uma atualização é consenso entre empregados e empregadores. Coalhada de distorções, a CLT é fonte de dores de cabeça para empresas e trabalhadores. É tão rígida que contraria interesses dos dois lados da folha de pagamento. A discussão sobre as mudanças necessárias não pode ser redutora – uma das primeiras abordagens dava conta da necessidade de contemplar detalhes como o trabalho intermitente, que não exige cumprimento de jornada. Mas começar a conversa – em reunião ontem do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, com sindicalistas – pela liberação do aumento da carga horária joga contra o equilíbrio necessário à conversa.
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Em um momento em que protestos de ruas, cinemas, teatros e estádios constrangem a atual gestão – como faziam com a ex-presidente Dilma Rousseff –, recomenda-se prudência na condução dos debates sobre o alcance das reformas. Do alto de sua fama de mau, o Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu ontem que o sistema político do Brasil terá de demonstrar que está comprometido com um ajuste fiscal mais forte que os de outros países da América Latina. Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo, ponderou que essa necessidade decorre do fato de que o “mundo mudou” e não por ter havido uma expansão artificial dos gastos públicos.
Instituição-irmã do FMI no chamado ''Consenso de Washington'' – com fama extensiva sobre o tipo de política econômica –, o Banco Mundial, na voz de seu economista-chefe para América Latina, Augusto de la Torre, sugeriu que o Brasil faça um ajuste de forma gradual, para evitar impacto sobre a recuperação do crescimento, que ainda precisa de confirmação. A frase que marcou os primeiros dias de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda deveria dar o tom das mudanças: devagar, porque há pressa. Excesso de pressão nesse momento só serve para aumentar resistências e cristalizar as dificuldades para avançar.