No dia seguinte a uma retumbante vitória no Senado do governo interino de Michel Temer, boa parte do mercado e dos analistas econômicos prestou atenção à derrota na Câmara. Por mais que o atual inquilino do Planalto e sua equipe tenham se esforçado para negar o fracasso, essa foi a leitura. Temer teve de dar um passo atrás, mais uma vez.
Com um olho no peixe – o avanço do processo de impeachment – e outro no gato – os sucessivos recuos do governo interino –, a bolsa caiu e o dólar ficou quase no mesmo patamar. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou a ter de passar pelo constrangimento de negar em público que a celebrada equipe econômica estaria perdendo força no governo.
Depois da recriação do Ministério da Cultura, da aprovação de reajuste a servidores bem remunerados, da exceção a categorias com forte poder de influência, foi-se a proibição aos governos estaduais dar aumentos salariais a servidores nos próximos dois anos. Já é uma coleção e tanto.
As sólidas maiorias obtidas para aprovar o processo de impechment na Câmara não se traduziram em apoio para votar as propostas do governo interino em suas versões originais. Isso que a proibição de concessão de aumentos nos Estados por dois anos havia sido considerada “inegociável” por Meirelles.
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O que o mercado interpreta como um risco de Levy II é visto de outra forma no meio político. Integrantes do PSDB – partido que deu bênção a boa parte da equipe econômica – estariam inquietos com a possibilidade de o ministro da Fazenda não se sentir tão desconfortável em sua cadeira atual por estar de olho em outra, mais alta, a da Presidência.
Outra linha de análise sugere que o verbo ceder será conjugado apenas enquanto Temer tiver de usar o aposto “interino” na Presidência. Depois, abriria com mais disposição o saco de maldades necessário à correção das finanças públicas. Fato é que o país que não podia esperar segue na expectativa de soluções. Depois de uma recepção entusiasmada, o dream team da economia pode não garantir medalha.