Na economia que testa sua capacidade de reação, como aprofunda a reportagem de Cadu Caldas publicada nas páginas 6 e 7, uma das maiores expectativas era em torno do pronunciamento do novo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn nesta terça-feira. Foi a primeira vez em que apresentou o Relatório Mensal de Inflação, uma espécie de diagnóstico geral sobre a saúde do paciente.
A julgar pela reação do mercado, o novo condutor da política monetária preencheu a cadeira com sobras. Ainda como economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan vinha atuando como regente das expectativas da economia diante de certa rouquidão de quem deveria exercer esse papel.
Precedido pela fama de pombo (favorável à redução de juro), Ilan falou com voz de falcão (defensor de juro alto). O mercado entendeu que, com taxa elevada, o real poderia se apressar frente ao dólar. E em plena crise global provocada pelo Brexit, o dólar teve a menor cotação em quase um ano no Brasil e a bolsa fechou com alta de 1,55%. Ponto para o BC.
Mas há dois pontos de atenção na fala de Ilan e na reação do mercado. Um é a queda de braço que começa a ser travada entre investidores e o BC. Ao reafirmar a fé no câmbio flutuante, o novo presidente criou espaço para os especuladores testarem um novo piso para o dólar. É bom lembrar, sobre a reação da economia, que alguns sinais de melhora estão ligados ao câmbio e seus efeitos tanto na exportação quanto na substituição de exportações.
Outro é o delicado equilíbrio na arbitragem que o BC terá de fazer a partir de agora. Ao posar de falcão, Ilan fere a expectativa de redução de juro, uma das alavancas para a melhora de ânimo empresarial. Se está correto ao reiterar que não haverá leniência com a inflação alta (gráfico abaixo), o presidente do BC precisa calibrar o freio no câmbio para não gerar mais inflação.
Na gestão anterior, havia ficado estabelecido o piso tácito de R$ 3,50. Ontem, o mercado forçou o dólar até R$ 3,30, que muitos já consideram a nova fronteira mínima tolerável pelo BC. Desde que explodiu a reação de pânico dos mercados ao Brexit, o Brasil vem sendo um dos países menos afetados.