Um dos especialistas que mais cedo chamou atenção para os riscos do Brexit, Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos, reitera que boa parte da reação de pânico nos mercados desta sexta-feira ocorre porque a decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia não estava sendo considerada pela grande maioria dos analistas e dos investidores:
– Foi uma surpresa, e essa reação ocorre, basicamente, porque a decisão, política e economicamente, é muito ruim para os próprios britânicos. É um tiro no pé, que terá consequências muito ruins. A médio prazo, entre dois e três anos, pode haver uma perda entre 2 e 3 pontos percentuais no PIB do Reino Unido.
Essa reação de pânico, porém, não deve se estender por semanas e meses como ocorreu em 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers, na avaliação de Alexandre. Para o Brasil, haverá dois efeitos mais signficativos: redução do comércio com a União Europeia, por conta da perda da riqueza do bloco, atraso no reposicionamento da política externa brasileira, porque a prioridade global, agora, passará a resolver o problema criado pelos britânicos, e pelo contágio financeiro. Embora provoque solavancos no processo que recuperação que já começava a se desenhar no Brasil, pondera Alexandre.
– A reação de hoje é compreensível, porque não era o que o mercado estava esperando, as pessoas ficam empanicadas, com medo do que pode vir a acontecer. Isso é muito irracional. Mas não acredito que vá se estender por um período longo. Os mercados lá fora, que em alta há muito tempo, têm gordura para queimar. É o que vai acontecer, porque estavam dando de ombro para esse evento. Mas diferentemente de 2008, o pânico vai ficar concentrado nos primeiros dias. Para o Brasil, é mais difícil avaliar, mas neste momento, qualquer coisa que aconteça fora, por mais importante que seja, tem menos relevância do que nossos próprios revéses aqui.