Faltam três meses para o desempate, mas o suspense já está criado. Durante a semana, o Banco Central deu a entender que não tem plano de baixar a taxa básica de juro neste ano. Como justificativa, apontou a inflação 0,1 ponto percentual acima do teto da meta, a resistência na acomodação de preços e a imprevisibilidade do cenário externo.
No dia seguinte, o Itaú Unibanco, que tem no comando de sua equipe de análise econômica um ex-diretor do BC, traçou cenário bem diferente: previu um corte de 2 pontos percentuais no juro básico ainda este ano, começando em julho. Para sustentar a projeção, apontou a “trajetória mais benigna da inflação”. Só que a prevista pelo Itaú é 0,3 ponto percentual maior do que a estimada pelo BC.
Como verbalizou o novo presidente do conselho da Marcopolo, Paulo Cezar Nunes, em entrevista à coluna na quinta-feira, “a grande dificuldade de qualquer empresa no Brasil, hoje, é conseguir calcular ou estimar quando vai ter um processo de retomada, nem que seja lento e gradual”. Pelo que se ouve em conversas com gestores, a dificuldade se estende para o simples planejamento básico do dia a dia.
A chamada “coordenação das expectativas”, que em bom português quer dizer exatamente apontar o terreno em que a economia deverá se mover, é tarefa do Banco Central, especificamente, e do governo federal como um todo. Mergulhado na crise política, o Planalto não mostra apetite pela atividade, ou talvez não sobre fôlego. A expectativa de uma solução rápida para o impasse político, que chegou a se desenhar com a saída do PMDB do governo, refluiu com a aparente decisão dos ministros do partido de não entregar os cargos.
Não à toa, foi um raro dia de queda acentuada na bolsa de valores, no mês que marcou o melhor desempenho dos últimos 13 anos. O contraste com os indicadores da economia real – produção industrial voltou a cair, e muito, desemprego testa níveis históricos, renda declina – acentua a falta de rumo no país.
Bons resultados no mercado financeiro deveriam ser consequência de uma economia saudável, com empresas entregando resultados a funcionários e acionistas. Mesmo em meio à crise, existem exceções notáveis à maré vermelha nas contas. Pena que são exceções.