Se a economia do Brasil não estivesse tão deprimida, o resultado da votação deste domingo poderia ter sido diferente. Assim como o conflito político contaminou o cenário econômico, a crise traduzida em perda de renda, de emprego e de previsibilidade minou o ânimo. E se as projeções sobre o Congresso estiverem corretas, o início do processo no Senado, com o consequente afastamento da presidente Dilma Rousseff por 180 dias é questão de tempo. Mas isso ainda vai levar quase um mês. Durante esse período, a correção das finanças, que já estava em segundo plano sumirá do horizonte do curto prazo.
Enquanto isso, o que embalará o debate nacional é o que um eventual governo de Michel Temer vai propor para corrigir o rumo. Entre aliados que prometem encorpar o autodenominado governo de salvação nacional do vice e grandes empresários, há um sonho comum: a ''itamarização'' de Temer. Não se trata de ter topete e ser ''mercurial'', mas, como Itamar Franco depois do impeachment de Collor, em 1992, terceirizar o comando da economia para profissionais – técnicos que mostraram trabalho em outros momentos difíceis. A pior herança de Collor no quesito indicadores foi a inflação (veja comparação no gráfico acima). A taxa de juro absurda era consequência. Chama atenção o igual percentual de dívida líquida pública, mas é bom advertir: na época de Collor, a inflação ajudava a financiar a dívida pública. Ou seja, o tamanho da que existe hoje é maior e mais difícil de resolver.
A de Dilma será a combinação entre rombo fiscal e economia real, especialmente quebra de empresas e aumento no desemprego. Por mais que o mercado financeiro – bolsa, câmbio e juros futuros – celebre no curto prazo, condições para restauração da governança econômica não serão dadas pela troca de guarda no Palácio do Planalto. Pode ajudar, mas não será suficiente. A crise nasceu da desconfiança.
A erosão da credibilidade de Dilma não começou no segundo mandato, abalada pela sétima fase da Operação Lava-Jato que respingou em grossa fatia do PIB nacional. Seus primeiros indícios surgiram com a nova matriz econômica, que tem data de implantação marcada pelo corte no juro básico em agosto de 2012, quando a inflação circulava em patamar superior ao que permitiria redução. Seguiram com a intervenção no setor elétrico.
Foi reforçada no primeiro aceno de Dilma em termos de parceria ao setor privado, em meados de 2013. Ao propor regras para concessão de rodovias, criou um limitador para a taxa interna de retorno, o ganho das empresas. Houve tentativa de recompor, mas o germe do descrédito proliferou em cada nova decisão e foi alimentado pelo boicote de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ontem ouviu, impassível, vários colegas pedirem seu afastamento. Até pela proximidade com o único réu político da Lava-Jato, Temer, também citado nas investigações, está longe de ser unanimidade entre empresários. É por isso, entre outros motivos, que lhe será cobrada a terceirização à Itamar Franco.