Uma sucessão sobre a qual havia suspense acabou sendo precipitada pela crise. Na quarta-feira, a Paquetá, cujo faturamento de R$ 2,5 bilhões a coloca entre as 15 maiores do Estado, anunciou a saída da família da gestão, com a contração de Hermínio de Freitas como novo CEO, que assume no dia 8.
Em oito unidades, a empresa produz 65 mil pares por dia e emprega 18 mi pessoas no país e no Exterior. Adalberto Leist passará a compor o Comitê de Transição com a diretoria corporativa, formada por Jorge Strassburger e Lioveral Bacher. No foco do curto prazo, está o equacionamento da dívida, provocada pelos investimentos em marca própria esportiva. E embora assegure que não há negociação em andamento, Leist admite aceitar propostas:
- Só não vendo a minha família - avisa.
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Como foi o processo de decisão?
Adalberto - A empresa vem há muito tempo trabalhando na consolidação da governança e buscando um sucessor. Chegou o momento. Chegada uma determinada idade (72 anos), é hora de fazer mudanças. Queríamos um CEO não sócio para fazer parte dessa nova etapa. Fico na empresa como presidente do conselho. A gente buscou uma pessoa com o nosso perfil, alinhado com o jeito de ser da Paquetá, que cuidasse das pessoas, do empreendimento, do trabalho. Achamos o Hermínio, que nos foi indicado, e ficamos muito unidos. É uma pessoa da Região Sul, o que achamos importante.
Há quanto tempo se buscava esse profissional?
Adalberto - Há cinco anos estamos batalhando. O contato mais próximo com o Hermínio começou neste ano.
Como a empresa está enfrentando a crise?
Adalberto - A Paquetá teve crescimento de 5,4% (sem contar a inflação) no ano passado, mas claro que houve negócios com mais dificuldade, principalmente no varejo e nas marcas, mas houve compensação na indústria. A empresa está bem. Como muitas, tem dívidas, mas estamos muito tranquilos porque está muito sólida.
Há no mercado uma preocupação em relação ao endividamento.
Adalberto - Como as vendas caíram muito no varejo, pedimos gentilmente para muitos credores a prorrogação de alguns títulos. Em muitos casos, foi feito de forma automática. Isso não quer dizer que empresa está com dificuldades. A dívida existe, mas é perfeitamente negociável. Temos como propósito para 2016 a redução de estoque, de custos, de despesas.
Qual é o peso da dívida?
Adalberto - Esse é um dado estratégico. Estamos em negociação com vários bancos num trabalho muito bom de buscar soluções. O endividamento não é nada assustador. Tem muito comentário de que estamos vendendo parte da empresa, mas não há nada disso. A posição societária também permanece. Não há nenhuma transação em andamento. Como muitas empresas, estamos abertos e buscando oportunidades, se houver, inclusive de venda. Mas, a princípio, não há nada negociado nem em andamento.
Mas não descarta a possibilidade.
Adalberto - Não, se alguém vier e buscar e chegarmos a comum acordo, vamos conversar. Nada é inegociável, só não vendo minha família.
Qual seu principal desafio no curto prazo?
Hermínio - Trabalhei na Petropar (atual Evora), inclusive quando a família Ling se afastou da gestão, e acompanhei outros processos de profissionalização, acho que posso contribuir nesse processo. Estava há nove anos em Curitiba, na Companhia Providência (fabricante de plásticos e não tecidos) e minha esposa estava em Porto Alegre. Precisava de algo que nos aproximasse. Tenho muito a aprender, porque meu conhecimento de varejo é limitado, mas tenho grandes mestres. No curto prazo, o principal desafio é rever o perfil da dívida, alongar para dar mais tranquilidade para fazer os ajustes necessários. A Paquetá tem oito negócios diferentes, o que permite uma maleabilidade de investimentos bem ampla. Isso vai ajudar a priorizar negócios. Alguns poderão crescer mais, conforme o desempenho do mercado, onde tem mais competência e está mais apto. A rentabilidade vai determinar as prioridades no plano estratégico.
Com que cenário a empresa está planejando 2016?
Hermínio - O varejo vai continuar sofrendo em 2016, o que é desafiador. Por outro lado, a exportação reacendeu. Cresceu 26% de 2014 para 2015. A Argentina se reorientou, e temos uma operação grande lá. A vida voltou à Argentina, e isso para nós é positivo. Também temos unidade produtiva na República Dominicana. São dois mercados com maior crescimento. A linha esportiva teve crescimento de 50% na receita, e a Argentina está sendo muito positiva nesse resultado.