Sem números para driblar indicadores negativos que se acumulam na economia, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, fez baixar o espírito do antigo chefe, Guido Mantega, e acenou com “estabilização” entre agosto e setembro, com volta do crescimento em outubro. Tomara que o ministro esteja vendo algo que os demais brasileiros não conseguem enxergar. Até houve, no início do ano, sinais menos ruins, como desaceleração da inflação e recuperação pontual da produção industrial ante meses mais difíceis, mas nada que sustente discurso tão otimista.
O objetivo de Barbosa é tentar convencer um Congresso que só tem olhos para o processo de impeachment a aprovar as medidas apresentadas durante a semana. Será difícil. Se o Executivo tem responsabilidade sobre erros na condução da política econômica, o Legislativo não ajudou a corrigi-los. Agora, o risco é de aprofundá-los. Pedir autorização para levar o rombo no orçamento a R$ 100 bilhões flerta com a temeridade – nenhum trocadilho.
Abrir espaço no orçamento para aumentar o crédito em um momento em que número de desempregados no país encosta em 10 milhões parece desafiar a noção de risco associado ao mercado de trabalho. Se em 2013 e 2014 o Brasil não crescia mas as estatísticas de ocupação permaneciam em alta, a reversão na trajetória foi rápida e profunda. Até empresas com perspectivas de crescimento lidam com a necessidade de se ajustar ao novo patamar de atividade do país, depois de muitos adiamentos.
Sem citar nomes, empresários dizem temer pelo futuro de companhias importantes no país e no Estado. A indústria, que até identifica uma “redução na intensidade das perdas” – em boa parte, graças a ganhos com exportação – está cética. Na Sondagem Industrial da Fiergs, quatro de cinco indicadores melhoraram, mas o pessimismo em relação à demanda se mantém. O cenário negativo provoca projeções de redução nas compras e nos empregos. E sem melhora no mercado de trabalho, não há estabilização à vista.