Seja em forma de microexplosão, supercélula ou “down burst” – a tese mais original até agora –, a supertempestade pode voltar. Seja em Porto Alegre ou no Interior. Meteorologistas alertam para isso desde o início dos anos 2000, quando ficou claro que o maior impacto para a economia – e o mais imediato – da mudança climática seria o aumento na intensidade e na frequência dos fenômenos graves. Essa tendência tem impactado desde cultivos agrícolas até o mercado de seguros, passando por indústria, comércio e energia.
Se são difíceis de prever, esses fenômenos precisam ter uma resposta mais organizada, para alcançar ao mesmo tempo a efetividade e a velocidade necessárias. E como se alcança esse objetivo que parece inatingível? Com a adoção de um protocolo mínimo, que defina responsabilidades e providências a quem quer que esteja à frente da prestação dos serviços de emergência.
Um protocolo construído a muitas mãos é capaz de evitar impasses entre diferentes agentes – o que se faz antes, cortam-se os galhos ou restabelecem-se as conexões perdidas? Um protocolo dispensa quem está na condução do processo de declarações constrangedores como “não basta ter motosseras, é preciso pessoal para operá-las”. Ou que agentes importantes do processo tenham de ir gradativamente empurrando para frente as promessas de normalização dos serviços, frustrando consumidores já exasperados.
Um protocolo de emergência agilizaria medidas corretas, como o pedido de ajuda a especialistas em cortes de árvores, como a Celulose Riograndense. A empresa foi chamada ontem para ajudar no recolhimento de árvores e galhos. O contato foi feito no início da manhã de ontem, e às 10h, uma equipe composta por quatro especialistas em motosserras e quatro ajudantes florestais, além de dois caminhões munk (com guindastes articulados), já atuavam no Menino Deus, um dos bairros mais atingidos pelo temporal. Também deixaria mais claro se um decreto de emergência precisa esperar mais de 48 horas para ser editado – e se tem reais probabilidades de ser aprovado.
Enquanto a normalização tropeça no improviso, o comércio de Porto Alegre – e cada consumidor que pagou contas sem a correspondente prestação de serviço – faz as contas. Segundo o economista da CDL Porto Alegre, Victor Sant’Ana, a queda estimada nas vendas no último final de semana de janeiro foi de 49,33%, comparando com a média dos demais finais de semana do mesmo mês. No mês, conforme projeção do Sindilojas, a perda deve representar entre 3,5% e 5% do resultado total de janeiro. Presidente do Sindilojas, Paulo Kruse afirma que a assessoria jurídica da entidade vai ajudar quem tentar acionar o seguro, mesmo que o contrato não preveja cláusulas contra dados provocados por catástrofes. Temos muito a aprender. Melhor que seja rápido.