Antes que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, decidissem dar sinais de que o discurso de ficar dentro da meta de inflação em 2016 havia perdido válidade, sabia-se que a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) teria uma difícil decisão: mais inflação ou mais recessão. Não mexer no juro significaria a primeira escolha, elevar incorreria na segunda. No “balanço de riscos”, como o BC justificou a decisão de manter a taxa anual em 14,25% ao ano, pesou mais a segunda.
Não é preciso muita honestidade intelectual para constatar que a situação econômica internacional se deteriorou desde a posse de Barbosa até esta quarta-feira. Rápida e abruptamente. No Exterior, a discussão aberta pelo megainvestidor George Soros é se o mundo está à beira de um novo 2008. Ainda bem que o diagnóstico está longe da unanimidade.
Ao tentar evitar que a recessão já profunda se agrave, o BC pode ter cometido um erro, o de chancelar a inflação acima da meta. Afinal, ao contrário dos Estados Unidos, onde o papel do banco central é manter um olho no peixe (emprego) e outro no gato (inflação), no Brasil o único compromisso formal é cumprir o regime de metas e frear preços.
Caso decidisse cumprir a missão sem considerar o tal “balanço de riscos”, o BC também poderia ser acusado de ter cometido um erro, e com consequências talvez ainda mais graves. Na vida real, a escolha é a seguinte: ou o consumidor perde parte da renda para a inflação, ou perde toda para o desemprego. No governo, a alta do juro representaria ainda mais pressão sobre a dívida, que tem boa parte atrelada à taxa básica.
Desde que o sistema de metas foi implantado no país, em 1999, o mundo passou por um solavanco planetário, que remexeu conceitos e redefiniu critérios. Talvez esteja na hora de repactuar o papel do BC na economia brasileira.