Não são saudáveis os sinais da relação entre governo e mercado. A decisão do Banco Central (BC) de manter o juro foi seguida de críticas, como seria se tivesse elevado a taxa básica. O maior problema foi a forma, não o conteúdo. A virada de jogo sinalizada aos 48 minutos do segundo tempo multiplicou dúvidas sobre a origem da decisão – convicção ou alinhamento à política econômica do Planalto.
E foi o aumento da incerteza sobre a condução da economia que ajudou a levar o dólar à cotação nominal mais alta da história, de R$ 4,16, no mesmo dia em que o Ministério do Trabalho informou a perda de 1,5 milhão de vagas no mercado de trabalho formal em 2015, a mais alta desde o início da série histórica. Foi o temor de repetir resultados como esse que levou o BC a, aparentemente, preferir impor perda de parte da renda pela inflação do que a perda total pela via do desemprego.
Se houve críticas pesadas ao presidente do BC, Alexandre Tombini, a hostilidade teve sentido inverso, quando o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou – em Davos, espécie de Disneylândia do dinheiro –, que “o mercado é um motor para o progresso e a produtividade, mas também produz desigualdade e volatilidade”.
Não faltaram lembranças à “nova matriz econômica”, que teve Barbosa como um de seus artífices e é responsabilizada por ter mergulhado o Brasil na crise. Nem que o Planalto quisesse poderia recuperar as medidas da “nova matriz”, porque não tem condições objetivas para tanto.
Análises menos inflamadas da decisão do BC também atribuem a decisão de interromper o ciclo de alta do juro a uma preocupação fiscal, uma vez que a elevação do do juro impacta diretamente a dívida pública. Será preciso fazer muita DR entre governo e mercado para alinhar expectativas.