Os sinais de que, se o governo federal não tem coelho nem cartola para fazer mágica, está disposto a usar truques de cartas para entreter a plateia embutem um risco: perder a mão. A decisão que marcou a nova fase da política econômica, a manutenção da Selic, já disseminou mais fumaça do que movimento, menos pelo conteúdo do que pela forma. A comunicação desencontrada do BC, que deveria ajudar a recuperar a confiança, acabou tendo efeito inverso.
O Planalto está disposto a mudar o foco do discurso, do ajuste para a retomada, sem ter concluído com sucesso uma fase para passar à próxima. Com certo atraso, começam a surgir debates mais estruturados sobre a consistência fiscal da quitação das pedaladas, apresentada sem maiores explicações quando boa parte do país estava focada na despedida sem saudade de 2015. E é essa, afinal, a principal peça de resistência do esforço para resgate da confiança na retomada do crescimento.
Se é certo que declarações da presidente Dilma Rousseff e da equipe econômica são mal interpretadas – há excesso de liberalidade no uso da expressão "não descarta", que tem acompanhado as entrevistas de Dilma – também falta clareza e transparência nos comunicados oficiais, a começar pela propositalmente opaca divulgação da fórmula da quitação das pedaladas.
Nesta semana, com o esperado anúncio de medidas para o setor de óleo e gás, o retorno do ministro Nelson Barbosa de uma Davos novamente dominada pelo ar gelado da economia internacional e a divulgação da ata da reunião mais polêmica do Copom dos últimos cinco anos – desde o já histórico agosto de 2011 – é preciso corrigir o rumo. Se o ambiente político interno se desanuviou, nuvens se adensaram fora das fronteiras.