A eleição de Mauricio Macri jogou novas luzes sobre a Argentina. O país passou a representar a esperança de correção de rumo para uns, e retrocesso às práticas menemistas para outros. As mudanças que Macri está fazendo de forma veloz tiveram e terão reflexos diretos no Brasil, já que os dois países são os maiores sócios do Mercosul.
Agora, se há uma grande diferença entre Argentina e Brasil é a qualidade média do cinema. O 'nuevo cine argentino' tem dezenas de títulos que, de tão bons, provocaram até remakes nem tanto de Hollywood. Com essas sugestões, é possível rever um pouco da história e entender melhor os hermanos.
O filme de Pabro Trapero recupera uma história que, se não fosse baseada em fatos reais, teria verossimilhança questionada. Na transição entre o esfacelamento da ditadura militar, originado na derrota da Guerra das Malvinas, um executor de sequestros políticos passa a usar a expertise para enriquecer. Além de mostrar uma fase particularmente difícil do país, tem conexões diretas com o atual presidente.
É o tipo de filme que é melhor ver sem saber muito, por isso a coluna não dará spoilers, mas curiosidades em torno da obra chamam atenção: antes do filme, houve uma série de TV sobre o mesmo caso. O ator que vivia um dos filhos d'O Clã era Alejandro Awada, atual cunhado do presidente Mauricio Macri – e adversário político, mas essa é outra história. Macri foi sequestrado e mantido em cativeiro por 12 dias em 1991. Seu pai, o empresário Franco Macri, pagou o resgate de US$ 6 milhões. O crime foi cometido pelo mesmo tipo de "profissionais" descrito no filme. Na Argentina, o filme bateu a bilheteria de outro ícone da atual cinematografia do país, O Segredo de Seus Olhos.
O Segredo de Seus Olhos (2010)
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, começa uma década antes do ponto de partida de O Clã, em 1974. Ainda não é formalmente uma ditadura, mas o país está submetido à Triple A, organização criminosa anticomunista. É uma espécie de introdução à institucionalização da violência retratada por Juan José Campanella, que depois ganharia detalhes sórdidos no filme de Trapero.
Las Viudas de los Jueves (2009)
Momentos que antecederam a crise de 2001, na vida dos moradores de um country (condomínios fechados e exclusivos). Parte da descoberta de três cadáveres em uma piscina, mas não é só um thriller. Faz um painel sobre a decadência econômica, social e moral da década de 1990, que culminou na ruptura institucional que fez o então presidente Fernando de la Rúa renunciar.
O Abraço Partido (2004)
Aborda a falta de perspectiva dos jovens depois do "estallido" de 2001, os protestos populares que provocaram a queda de De la Rúa. O personagem trabalha na pequena loja da mãe, em uma galeria comercial que, segundo ele, é o retrato da Argentina de então: cheira a fracasso e marasmo. A grande ambição é a cidadania europeia, para sair do país em busca de emprego.
Kamchatka (2002)
A ditadura considerada a mais feroz da América Latina vista por um garoto de 10 anos, que tem de viver na clandestinidade com os pais perseguidos. O título estranho vem de um jogo de tabuleiro, mas para estragar a história para quem ainda não viu, a coluna evitar dar detalhes.