Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro já previa, no início deste ano, que não se poderia esperar muito das exportações. Para 2016, estima um saldo comercial maior, mas com embarques em queda, mesmo com taxa de câmbio muito favorável à venda para o Exterior. À coluna, explicou por que projetou queda nas exportações ao longo de 2016, mesmo com a provável alta da cotação do dólar em relação ao real.
Por que há previsão de redução nas exportações?
Porque as commodities (matérias-primas básicas) continuam caindo de preço. A soja deve cair para US$ 370 por tonelada. Neste ano, vamos exportar 54 milhões de toneladas de soja. Como temos projeção de produção de mais 5 milhões de toneladas, a projeção é exportar 57 milhões. Estamos projetando um aumento de crescimento de apenas 0,9% na soja.
Estamos soja-dependentes?
É o primeiro item da pauta de exportações, disparado. Em 2015, vai render US$ 20,9 bilhões, enquanto o segundo, que é minério de ferro, ficará em US$ 14 bilhões. Em 2016, a projeção é de que a soja atinja US$ 21 bilhões, e o minério de ferro caia mais um pouquinho, para US$ 12,6 bilhões.
Não vai haver a esperada reação dos manufaturados?
É a grande dúvida. Estamos projetando aumento de 5% para 2016. Imaginamos que a Argentina possa ser a grande surpresa. Se o país aumentar a área agrícola e a produção, vai gerar divisas e gastar com importações. O beneficiado seria o Brasil, que está mais próximo. Teríamos alguém produzindo mais commodities, o que pode provocar baixa de preço, mas também pode abrir espaço para importar manufaturados.
Vem desvalorização de 40%?
Acho esse número muito alto. Se for isso, as importações vão diminuir. Eles vão ter de segurar importações. Se não houver, vão importar e não têm como pagar.
Com a perda do grau de investimento e a alta de juro nos EUA, para onde vai o dólar?
Deve ficar entre R$ 4 de piso e R$ 4,50 de teto. Até para nós, exportadores, dólar a R$ 4,50 é muito elevado. Pode reduzir importações indispensáveis para a economia - sem contar as dispensáveis. Pouco ocorreu este ano por conta da taxa de câmbio, como os calçados no Rio Grande do Sul. Estão começando a reagir. Por isso estamos prevendo aumento de 18% paras 2016. Mas a base é pequena. Para a Argentina, a grande expectativa é para automóveis e autopeças.
Não há surpresas positivas?
O que a Volkswagen começa a fazer, exportando motores para a Alemanha. Pode haver mais operações de intercâmbio entre empresas internacionais, que têm mercado cativo e câmbio altamente favorável. É uma oportunidade de aumentar o lucro no mercado interno.