O ano foi difícil e insiste em não terminar. Em outros dezembros, esta época costumava ser quase tediosa, mas a crise provoca fenômenos opostos. As administrações pública, às voltas com rombos gigantescos, trabalham como nunca entre o Natal e o Ano-Novo. Nas empresas, cresceu a prática do recesso, um tempo de parada para reduzir custos e ajustar a produção.
Mas até quem teve um ano ruim pode encontrar algum motivo para ser grato, nem que seja o fato de 2015 se encaminhar para o fim, ao menos no calendário. E, como sempre, existem os que souberam usar as oportunidades abertas pela crise ou até quem simplesmente a ignorou.
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A coluna falou com seis empresários para saber qual foi o presente de cada um em 2015. Foram ouvidos tanto os que tinham muito a comemorar quanto os que ainda esperam respostas de 2016.
Cássio Bobsin
Sócio-fundador da Zenvia, Bobsin começou o ano com expectativa de manter o crescimento agressivo da integradora, na faixa de 90%. A crise não permitiu manter a média, mas, mesmo assim, o resultado foi muito acima da concorrência.
"Em 2015, a Zenvia consegui crescer cerca 75%, para um faturamento de R$ 270 milhões. Como foi um ano muito complicado para a economia, esse foi o grande presente. Além disso, conseguimos consolidar ainda mais a empresa no mercado brasileiro, com a aquisição de uma das unidades de negócio do nosso principal concorrente em abril. Para 2016, a meta é crescer ainda mais aqui no país. Temos planos de ir para outros lugares, mas mais adiante. Queremos focar aqui, agora. Planejamos uma possível expansão para fora do Brasil para a partir de 2018."
Gilberto Petry
Presidente do Sinmetal e empresário, Petry viu de perto a corrosão do setor metalmecânico em 2015. Só no Estado, 53 mil trabalhadores do segmento perderam o emprego até outubro.
"O ano foi muito ruim, especialmente para o setor metalmecânico, o que inclui a minha empresa (Petry é diretor-presidente da Weco). Tive de dar férias coletivas agora no final do ano até 4 de janeiro, coisa que nunca tinha feito antes. E, como muitos outros do setor, precisei demitir funcionários. Não consigo enxergar algo positivo. O maior presente é que 2015 vai acabar, finalmente. E mesmo assim, 2016 deve ser igualmente difícil. Não se vê nada positivo à frente. Estamos vendo uma possível recuperação só no final de 2016, mas só se ocorrer algum movimento de mudança mais forte."
Natal se desenha acima do esperado
Clenir Wengenowicz
Por muitos anos o rosto da Vivo no Estado, Clenir saiu da companhia depois da fusão com a GVT, e só elevou o tamanho do desafio. Com o sócio Luís Gustavo Masiero, comprou a rede de lojas Tok em julho, aderindo ao clube dos empreendedores da crise.
"Meu presente em 2015? Eu comprei uma rede de lojas! Foi um presente, primeiro, pelo desafio de sair de um negócio que eu dominava, e segundo, por entrar em um segmento novo neste ano complicado. Significa que estou tendo de aprender mais rápido, mas é nesses momentos que a gente cresce. Se olhar mais friamente, o copo está meio vazio, mas como qualquer outra crise, vai passar, por isso temos de trabalhar bastante. O que ocorre é que a gente se cobra mais para ajustar as coisas. Mas foi um presente, estou muito confiante e não tenho nenhum arrependimento. Estamos preparando a empresa para o futuro."
Rogério Dirani
O empresário lançou neste ano a DLegend Vendas, e voltou a atual em um segmento do qual estava afastado desde 2008, quando vendeu a Dirani para a paulista Lopes.
"Meu presente foi ter encerrado a minha cláulsula de não competição no segmento de vendas, em julho. Desde a venda da Dirani para a Lopes, em 2008, eu estava fora dessa área, de que gosto muito. Com o vencimento, eu pude lançar a DLegend Vendas, voltada para o segmento premium, um projeto que eu comecei a preparar no ano passado. Vejo muitas oportunidades, mesmo nesse cenário complicado de crise e a perspectiva de um 2016 também difícil. A volatilidade do mercado faz as pessoas quererem investir em imóveis."
Maristela Longhi
Diretora da Multimóveis, de Bento Gonçalves, tinha a expectativa de que um dos efeitos colaterais da crise, a alta do dólar, ajudasse nos negócios, mas não foi bem assim.
"A única coisa positiva no ano foi a mobilização das equipes. Foi um ano desgastante psicologicamente, as pessoas estão cansadas. O que compensou foi ver a equipe mobilizada na busca de alternativas, para melhorar a gestão, reduzir custos. Esse foi o meu presente: ver o envolvimento da equipe no sentido da superação do momento difícil. Havia expectativa de aumentar a exportação, mas ainda não dá para comemorar. Estamos percebendo alguns movimentos no sentido de uma recuperação das vendas ao Exterior, esperamos que, a curto ou médio prazo, a alta do dólar comece a dar resultados um pouco melhores."
Leandro Melnick
Presidente da Melnick Even, associação de uma empresa familiar de construção civil do Estado e a paulista Even na época da "invasão" das grandes empreiteiras, organizou um grupo de investidores e ficou com a maior fatia das ações da Even.
"Meu presente foi ter a possibilidade de aproveitar uma oportunidade que surgiu neste momento de crise. Foi um presente construído, mas ganhei participação societária relevante em uma grande empresa nacional. Em momentos de crise, sempre surgem oportunidades. O desafio é estar preparado para aproveitá-las. Tudo na vida é batalhado, é preciso planejar e ter a sorte de encontrar os parceiros certos. Isso também ocorreu com a associação com o Hospital Moinhos de Vento e o Zaffari para poder presentear Porto Alegre com um empreendimento para cuidar da saúde e dar benefícios reais à sociedade."