Criada há 26 anos como um centro de custos da Marcopolo em Curitiba para atender à Volvo, a MVC se transformou de uma espécie de posto avançado em uma empresa com negócios diversificados e, a partir de 2008, com a parceria de outra gaúcha, a Artecola. Com história marcada por altos e baixos, a MVC embarcou no final da semana passada o protótipo de uma encomenda para a Europa que deve render um contrato de R$ 65 milhões. Foi a melhor notícia recente para a empresa que terá, neste ano, queda de 55% no faturamento, de R$ 670 milhões em 2014 para cerca de R$ 300 milhões. E mais do que o reforço no caixa, o que mobiliza a empresa é o destino da encomenda: são casas plásticas moduladas que serão doadas por clientes europeus a refugiados sírios.
Crise e oportunidade
A tecnologia nasceu de um problema, relata Gilmar Lima, diretor-geral da MVC. O segmento específico de plásticos – uso de ABS, policarbonato, resina poliéster – em que a empresa atua tem rápida evolução tecnológica. Como a empresa não conseguiu acompanhá-la, perdeu a Volvo como cliente. Isso obrigou a fazer um pesado investimento em tecnologia: foi contratado um fornecedor na França. A partir daí, a MVC passou a participar de feiras internacionais, também em busca de novidades. Há 12 anos, essa experiência permitiu desenvolver o sistema construtivo com base em resina plástica – e a recuperar a Volvo, com outros clientes como Embraer e Mitsubishi.
– Escolhemos Caxias do Sul para fazer as primeiras casas, porque lá tem frio, vento, calor e um povo extremamente exigente. Fomos mostrar em feiras, sem intenção de vender, como experiência, para entender esse mercado. Sabíamos muito de plástico, mas pouco de construção. Lá fora, o sistema modular era conhecido, mas aqui ainda somos muito tijolo e cimento – conta Lima.
Solução brasileira
Quando o problema de refugiados sírios explodiu, um grupo de investidores da Alemanha, por solicitação do governo, saiu em busca de uma solução de moradia que não fosse barracas de lona, nem contêineres.
– Eles queriam doar casas com boa qualidade. Procuraram em China, Coreia e outros países. Um desses investidores havia conhecido nosso produto e disse que, no Brasil, havia uma empresa com sistema já consolidado. Entraram em contato e avisaram que era um projeto que precisava de entregas urgentes – relata Lima.
No início da conversa, eram casas de 32 metros quadrados com dois quartos. A MVC estudou a legislação alemã e avisou que, para atendê-la, seriam necessários 64 metros quadrados. Apesar do dobro do tamanho, a desvalorização do real permitiu que o projeto ficasse no preço.
Embarque por avião
Uma casa – ou melhor, o kit – foi embarcado via aérea para homologação na Alemanha. Segundo Lima, os clientes ficaram “extremamente satisfeitos”. O contrato prevê a entrega de 1,2 mil kits. Na Alemanha, serão feitas as bases e a montagem. São módulos de 2,6 metros por 3 metros. A entrega começa com 50 kits/mês para chegar a cem e, depois, a cem conjuntos mensais. O contrato vai representar R$ 65 milhões, pagos a partir de 2016.
Empregos mantidos
Para esse projeto, 75 pessoas que estavam ociosas na empresa deixaram de ser desligadas. Caso feche novos contratos – há milhares de consultas da Europa –, a empresa prevê contratar mais 250 pessoas. Para 2016, a MVC também tem contrato de R$ 150 milhões para fornecer peças plásticas para aerogeradores.