Além de representar o alcance de uma meta perseguida há anos pelo economista Nelson Barbosa, sua indicação para o Ministério da Fazenda significa que o servidor vai assumir de direito um papel que já exercia de fato, que era a última palavra nas decisões de política econômica. Com grande afinidade com a presidente Dilma Rousseff, Barbosa vinha ganhando todas as batalhas que disputava com o desacreditado Joaquim Levy.
A primeira expressão pública da falta de sintonia interna entre Barbosa e Levy ocorreu no anúncio do primeiro corte no Orçamento de 2015, ainda em junho. Como o valor foi inferior ao que defendia, Levy expressou sua discordância não acompanhando o colega no momento do comunicado público da decisão de limitar a ceifa a R$ 80 bilhões. Depois disso, sucederam-se outros embates, em que Levy invariavelmente perdeu.
A combinação entre Dilma e Levy, de fazer a mudança, mas só depois das festas de final de ano, foi para o vinagre quando o agora ex-ministro da Fazenda "deixou escapar" em uma reunião do Conselho Monetário Nacional que estava se despedindo. Saiu dizendo que não se sentia traído, mas "decepcionado". Foi elegante até o fim.
A missão de Barbosa será adoçar o discurso duro de Levy, que só falava em cortes, ajustes, impostos. De formação tão desenvolvimentista quanto a da presidente Dilma, o novo ministro não terá dificuldade para fazer esse papel. Mas será encarado com extrema desconfiança pelo mesmo motivo. Antes de pensar em retomada, é preciso completar o desmonte das armadilhas que levaram o Brasil a essa crise de dimensões ainda desconhecidas.
No governo anterior, Barbosa participou das diretrizes da "nova matriz econômica". Saiu do governo exasperado com Guido Mantega e foi para a Fundação Getulio Vargas, onde assumiu discurso mais ortodoxo e passou a defender a necessidade de ajuste. O anúncio oficial foi deixado para depois do fechamento do mercado, mas não deve evitar que, na segunda-feira, o novo ocupante da cadeira mais quente da Esplanada seja recebido com queda na bolsa e alta no dólar. A reação será tão moderada quanto mais os investidores conseguirem digerir o nome de Barbosa e entender o alcance das mudanças que sua ascensão ao cargo representa.
A maior surpresa do dia foi o nome do substituto de Barbosa: sem muitas escolhas fora do governo, a solução foi interna. Valdir Simão, que havia assumido há pouco a Controladoria-Geral da União, é o indicado para o cargo. Controle, aliás, é capacidade essencial nestes dias no Planalto.