A ressaca do pleno emprego dá ao avanço implacável das demissões um ar ainda mais desalentador. De janeiro a outubro, fecharam-se 819 mil postos de trabalho formal no país – 58,8 mil no Estado. São famílias que perdem renda, plano de saúde, auxílio-educação, inserção social.
Além do drama pessoal e familiar, existe o efeito realimentador: 11 em cada 10 analistas sabem que a profundidade e a duração da crise serão diretamente proporcionais ao tamanho da ceifa de vagas. Isso posto, o cenário previsível anda menos ruim do que se temia no início do ano.
Quando as previsões sobre a queda do PIB ainda nem chegavam perto de 3% – hoje ultrapassam esse número –, economistas estimavam taxa de desemprego acima de 8% até o final do ano. Até outubro, não chegou lá.
Novembro e dezembro, se não desafiarem o comportamento histórico, darão trégua para a estatística: são meses de contratrações temporárias, ainda que reduzidas neste ano. Ou seja, mesmo com recessão mais profunda, talvez o indicador se comporte melhor do que o esperado. Todos fazem contas: a perda no faturamento, descontada a inflação, tem de fechar com alguma forma de redução de despesa.
Muitos empresários – infelizmente, não todos – deixam os cortes de pessoal na gaveta das medidas extremas, acionadas apenas na antesala de um perigo maior. E não é por empatia ou piedade: sabem que, com menos emprego, o consumo cai. Com menos consumo, a produção não será reativada. E o risco final é esticar a duração da recessão. Com sinais de alívio na tensão política, é o momento de o governo federal dar sinais de que há perspectiva.