Mário Corso

Mario Corso

Mário Corso é psicanalista e escritor. Passo-fundense adotado por Porto Alegre. Formado em psicologia pela UFRGS, trabalha com adultos e adolescentes.

Equilíbrio
Opinião

Loucuras para não envelhecer

Graças à medicina e aos melhores hábitos, nós estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor

Mário Corso

Andrey Popov / stock.adobe.com
Cuidar-se para ter uma boa velhice é necessário, inadiável, mas lutar contra o envelhecimento e a morte é uma causa perdida.

Bryan Jonhson, 47 anos, é um bilionário americano em busca da saúde dos seus 18 anos. Com uma equipe médica, desenvolveu o Protocolo Blueprint, um tratamento para rejuvenescer. Encara seu corpo como um algoritmo que pode ser configurado

Ele compartilha esta empreitada na internet. Trata-se de uma intensa rotina de bons hábitos. Ele é vegano, não bebe, não come gordura nem doces. Faz restrição calórica e jejum intermitente — a última refeição do dia é as 11 da manhã. Seus exercícios vão de segunda a segunda. Dorme cedo e sempre sozinho. Que vidão!

Bryan toma 100 comprimidos diários entre vitaminas e medicamentos. Fora outros procedimentos médicos, quase todos experimentais, afinal, é um protocolo em processo. Por exemplo, ele filtra seu plasma para retirar as toxinas. O custo é de dois milhões de dólares ao ano e sua casa é praticamente um hospital.

Podemos comprar alguns dos produtos do Protocolo. Encontrei na internet o Suplemento Blueprint Bryan Johnson. São 30 cápsulas por 600 reais. Sua experiência é também um negócio.

Recentemente Bryan apareceu com o rosto inchado. Teve uma reação alérgica severa por injetar gordura de outra pessoa no rosto. Isso porque, com 1950 calorias/dia, embora com bons biomarcadores, ele ficou com o rosto chupado. Também parou com as transfusões de plasma, que recebia do filho, por não trazer benefícios.

Bryan é um de nós. Não são poucos que enlouquecem e fazem qualquer absurdo para não envelhecer. Graças à medicina e aos melhores hábitos, nós estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor, ainda não acertamos o equilíbrio. O que vale um corpo saudável se estamos dementes, ou uma cabeça boa com um corpo em frangalhos, imerso em dores?

Cuidar-se para ter uma boa velhice é necessário, inadiável, mas lutar contra o envelhecimento e a morte é uma causa perdida. A vida é aquilo que acontece enquanto esquecemos da finitude e vamos atrás dos nossos desejos. Neste sentido, Bryan perdeu o jogo. Ele é saudável e ocupa-se do corpo como um doente. Em sua existência, os personagens principais são o envelhecimento e a morte. Será que lhe sobra tempo para contracenar com a vida?

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