Se existe um consenso, é de que vivemos uma radicalização política. A questão é como usamos mal o esquema classificatório básico. Pensamos os entendimentos de mundo como sendo de direita ou de esquerda. Não discordo, mas é um esquema unidimensional.
O mundo sim se divide em direita e esquerda, ao menos na sensibilidade, na concepção de homem e do agir no mundo. Mas não é a única divisão. Existe outra tão importante quanto e que opera ao mesmo tempo: o mundo se divide também entre messiânicos e não messiânicos. É preciso entender a política com essas duas camadas girando independentes.
O messiânico pensa estar montado na verdade, enquanto os não messiânicos têm dúvidas
Os messiânicos têm uma inquietação quanto ao jeito que o mundo é e querem mudá-lo com urgência. Os não messiânicos não necessariamente estão de acordo com o mundo, ou com a condição humana, mas de qualquer forma não pensam que seja possível fazer grandes e drásticas mudanças. Pensam o homem como aperfeiçoável.
Os messiânicos não partem da realidade, mas sim de um dogma de como o homem e o mundo deveriam ser. Eles brigam com a realidade, que ainda não se dobrou a como eles sabem a priori que é certo. Os não messiânicos tendem a ser orientados pela vivência concreta no mundo, se baseiam em experiências que deram certo para traçar a ação e brigam menos com a realidade.
O respeito à diferença é o central nessa questão. O messiânico pensa estar montado na verdade, portanto vai querer impor a sua visão. Por isso tende ao pensamento único e ao totalitarismo, pois só ele sabe o que é bom para todos. Os não messiânicos têm dúvidas, compreendem a humanidade como plural e não acreditam em um saber que daria conta de tudo. Portanto, são mais flexíveis à pluralidade dos costumes e saberes.
Embora existam religiões não messiânicas, esse sistema de pensamento é herdeiro laico das religiões que querem salvar o mundo do pecado.
Portanto, podemos ter partidos messiânicos e não messiânicos de direita e esquerda. A esquerda não necessariamente tende ao messianismo, e se contabilizarmos as ditaduras do mundo árabe, estatisticamente, existe mais messianismo de direita.
Use esta variável a mais e não cairá na tolice de classificar o nazismo como de esquerda. Ou nas simplificações toscas como: os extremos se tocam. Na verdade, eles apenas coincidem em sua ânsia do agir político e não sobre as pautas. A moeda comum é a prepotência.