Tenho um tempero que serve pra usar em tudo. É uma mistura de um monte de temperinhos: todos secos e desidratados. Não tem conservantes e diz na embalagem que é supernatural.
Vai sair uma massa? Tempero no molho! Vai ter feijão? Tempero nele! E, olha, quem vem aí de novo no carreteiro? Já sabe, né? O temperinho para todas as horas! Esse tempero tem um gosto de um pouco de tudo. Consigo identificar no potinho: alho, salsinha, pimenta, mix de ervas, parece um chimichurri com muito orégano e alho. Enfim, tudo fica saboroso.
Vamos refletir um pouco sobre a vida? Quantas vezes, em situações diferentes, você (ou a gente, porque me incluo nisso também) resolve usar a mesma estratégia pra seguir em frente? Repetir comportamento dá segurança. A mesma atitude, várias vezes, faz você ganhar tempo no corre-corre da rotina de uma semana cheia. É muito mais prático optar por algo conhecido, por uma estratégia já testada, por um tempero que não tem erro.
O problema começa a ficar sério quando tudo entra no automático. Que gosto tem uma conquista pessoal, um feriado em casa, o vento no rosto andando na rua, uma ligação da família, uma fruta bem docinha depois do almoço?
Me lembrei agora do dia em que aquele tempero, que eu sempre usei pra cozinhar, não serviu mais. Durante o tratamento de uma gastroenterite (o popular piriri), não consegui mais usar a misturinha mágica. A regra era comida sem tempero, sem condimentos pra não irritar ainda mais o estômago. Foi a chance que precisava para receber um livramento.
Depois de melhorar, na hora de voltar a cozinhar pra valer, pensei: "Será que aquele tempero pronto é mesmo necessário?" Isso aconteceu em abril deste ano. Desde então, tenho me permitido sentir o gosto diferente das coisas.
O que estou tentado agora é levar essa técnica para as outras situações da vida. Tem muitas ocasiões em que quero abandonar o tempero pronto, a receita mágica, a fuga fácil. Até o amargo de uma decepção tem mais sabor do que o conforto da repetição.
O potinho do tempero segue ali, ao alcance da mão, mas já não é um hábito colocá-lo em tudo. Sigo procurando o equilíbrio entre o seguro e o novo.