Sol a pino ao meio-dia de domingo no subúrbio de Deodoro, o bairro mais quente do Rio. Nem um quinto dos 5 mil lugares do estádio de hóquei sobre a grama feminino, um dos mais acanhados da Rio 2016, está ocupado para assistir à favorita Holanda. Nas arquibancadas, apenas uma pequena e abnegada massa compacta, camisetas laranja e protetor solar abundante, fiéis torcedores da Holanda, medalha de ouro no feminino em Londres. Pela beleza, as holandesas foram consideradas as musas da última olimpíada, mas são feras mesmo, ídolas de lotar estádios de Maastricht a Groningen.
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Em campo, as holandesas vão enfrentar a Espanha pelo Grupo A. O campo de grama artificial azul é molhado para evitar lesões nas quedas. Vêm os hinos e meio-dia e 30 começa a partida. Um calor infernal. Na torcida, onde há 10 holandeses para cada espanhol, quase ninguém fala português. Acompanhado por uma recepcionista, chega um VIP holandês.
– Quem é? – pergunto a um carioca da organização.
– Não faço ideia, mas tem de ser muito fanático para estar aqui nesse solaço – responde ele, com jeito brincalhão de quem também está aprendendo as nuances da paixão pelo esporte.
Apenas uma dúzia de jornalistas enfrentam o solão para acompanhar a partida – pelo que vejo, só eu do Brasil. Compreensível. O esporte tem seus fãs por aqui, mas é injustamente anônimo. Jogado com um taco e bolinha parecida com a de beisebol, o hóquei sobre a grama tem emoção, tem drible, tem passes incríveis.
– São 11 de cada lado, se joga na grama e tem goleira. Um dia o Brasil vai ser campeão do mundo – exagera outro brasileiro da organização.
Enjeitado no Brasil – perdemos de 7 a 0 para a Espanha na estreia do masculino e ninguém se espantou –, o hóquei sobre a grama desperta audiências na casa do bilhão de almas. Na Índia, que já ganhou oito medalhas de ouro no esporte, a popularidade só está atrás do críquete. Nada menos que 40 jornalistas indianos estão destacados para acompanhar a seleção masculina da Índia, que venceu a Irlanda por 3x2 no sábado. O Neymar deles, Sardara Singh, com popularidade de estrela de Bollywood, foi sufocado pelos fãs hindus que atravessaram o mundo para se aninhar nos subúrbios do Rio.
– Os ingleses trouxeram três esportes para a Índia: golfe, críquete e hóquei sobre a grama. Os pobres, que não tinham dinheiro para equipamento, ficaram com o hóquei – me explica o jornalista hindu Paul Singh Prabhjot, um veterano que já cobriu seis olimpíadas e sete mundiais.
Em campo, a número 12 da Holanda, Lidewij Welten, abre o placar. A massa cor de laranja nas arquibancadas salta em euforia. Os alto-falantes soltam um "Let it Be". A partida termina com goleada de 5x0 para a Holanda. A nova e bela Laranja Mecânica está em ação. O maior adversário das holandesas é... a Argentina, medalha de prata em Londres. É melhor começarmos a aprender a jogar hóquei.