Passada a primeira semana de Olimpíada no Rio, a sensação é de alívio. As falhas – resultados da soma de algum improviso com um evento de altíssima complexidade – não são capazes de ofuscar o fato de que, até agora, a Rio 2016 é um sucesso.
Aqui, um balanço do que está indo bem e do que nem tanto.
MEDALHA DE OURO
ESTÁDIOS E ARENAS
Padrão Fifa é coisa do passado. Os locais de provas são excepcionais para público e atletas. Grande surpresa positiva: todos os banheiros são limpos. Difícil saber qual o mais espetacular cenário de uma prova olímpica: vela na Marina da Glória ou remo no Estádio da Lagoa. Só não ganham 10 pelo fato de a água da piscina de saltos ornamentais ter ficado verde.
CORDIALIDADE
Em contraste com anfitriões anteriores, os visitantes estão conferindo na prática o jeito descontraído e brincalhão dos cariocas, que se desdobram em transmitir uma boa imagem da cidade e do país. Assim como os voluntários, os locais se mostram justificadamente orgulhosos da Rio 2016 e compensam a falta do inglês com a tradicional simpatia, gentilezas e disposição para ajudar.
SEGURANÇA NOS PARQUES
A Força Nacional assumiu a segurança interna dos parques e deu certo. Policiais corteses estão presentes em toda parte e parecem levar a sério a possibilidade de atos terroristas. O planejamento funcionou e a complexa movimentação de mais de três dezenas de chefes de Estado ocorreu praticamente sem incidentes. Em termos de criminalidade, os parques olímpicos são oásis em um Brasil de violência.
APOIO À IMPRENSA
As condições de trabalho para 15 mil jornalistas, em grande parte pela primeira vez no Brasil, são de primeira categoria. O know-how do COI em fornecer acesso à comunicação em toda parte, inclusive nos ônibus da imprensa, em instalar repórteres nas posições adequadas durante as provas e em transportá-los de um lado para outro reduzem a vulnerabilidade a críticas à Rio 2016.
INFORMAÇÃO NAS ARENAS
Durante as provas, o público tem o mesmo acesso ao que se passa na arena do que telespectadores em casa. Os 72 telões de LED transmitem ao vivo imagens, informações sobre atletas e resultados. De quebra, apresentadores distraem o público com brincadeiras durante os intervalos. Padrão NBA. Medalha de Ouro.
ATRAÇÕES FORA DOS PARQUES
Abençoado por Deus, o Rio nem precisava de mais. Mas a renovada área portuária, o Porto Maravilha com seu Boulevard Olímpico, ofertou aos cariocas mais um motivo para não ficarem em casa. Muitos países, como Japão, Holanda e Suíça, abriram casas para receber convidados e turistas. Ao aproximar a população do símbolo dos Jogos, a chama Olímpica ardendo na Candelária, é uma das melhores inovações da Rio 2016.
CERIMÔNIAS
A festa de abertura foi uma unanimidade mundial. Mais que a Olimpíada do Rio, foi o Brasil, que passou com louvor pelo seu teste de maior visibilidade. Dirigentes do COI asseguram que a festa de encerramento será do mesmo nível. Destaque de disciplina e bom gosto também para as impecáveis entregas de medalhas.
MEDALHA DE PRATA
TRANSPORTE
O Rio passou por uma revolução urbana. A cidade, e não só a Zona Sul, está conectada por um sistema que conjuga metrô, ônibus em faixas exclusivas, o BRT, trens, modernos bondes elétricos, o VLT, e uma série de vias expressas. Com um só cartão, o Riocard, o passageiro anda em todos os transportes coletivos. Dois problemas: a dificuldade de se chegar ao Parque de Deodoro e o horário do metrô, que para de funcionar antes do fim de algumas partidas tardias e deixa passageiros na mão.
POLICIAMENTO
O esforço das polícias e das Forças Armadas em colocar mais de 40 mil homens e mulheres na ruas surtiu efeito. A presença militar gera mesmo uma sensação de segurança, mas é bom não exagerar. Um ônibus da imprensa teve dois vidros quebrados e um soldado da Força Nacional foi morto quando sua viatura entrou desavisadamente em uma área de risco. Na terça à tarde, nos 1,3 mil metros que separam a Marina da Glória e a estação de metrô do Catete, por onde desembarca o público, não se via um policial.
TRÂNSITO
Nenhuma metrópole recebe um evento desta magnitude sem associá-lo a muitas horas perdidas no trânsito. Entre o Aeroporto do Galeão e o Parque Olímpico da Barra é preciso se preparar para até duas horas no anda-e-para. A faixa exclusiva nas vias expressas reservadas a veículos ligados à Rio 2016 é um bálsamo para quem atua na Olimpíada, mas reduz o fluxo para os demais. Os cariocas, porém, parecem resignados.
MEDALHA DE BRONZE
ALIMENTAÇÃO
A tarefa de abastecer centenas de pontos de venda provisórios todos os dias é gigantesca e os problemas com a falta de comida e água nos parques nos primeiros dias foram resolvidos. Mas os visitantes ainda torram sob o sol nas filas, encontram poucas opções no cardápio, seguidamente recebem sanduíches e pizzas ainda meio congelados e frequentemente precisam assistir a bate-bocas entre balconistas monoglotas.
ACESSO AOS PARQUES
Nos primeiros dias, muita gente perdeu parte das provas ao ficar retida nas filas para revista. O treino e o reforço nos portões aplacaram um pouco o tormento, mas, dependendo do parque e do esporte, é preciso enfrentar uma provação. Já a sinalização é abundante, mas ainda assim insuficiente para orientar os visitantes pelas enormes distâncias a pé. Cartazes com letras pequenas e falta de sinais em muitos lugares confundem quem chega a uma área pela primeira vez.
VOLUNTÁRIOS
A multidão em uniforme amarelo forma o povo mais gentil e cortês da Olimpíada. Mas poucos sabem alguma coisa de concreto. Informações desencontradas ou o mote "não sei, mas aquele ali deve saber" refletem a falta de treinamento e um certo clima de oba-oba, previsível para quem está ali mais pela festa e para fazer amigos. Vale a simpatia.
PÚBLICO
Do céu ao inferno na mesma arquibancada. A alegria e gritaria animam partidas de esportes coletivos, como é de se esperar, e a torcida encanta os visitantes. Mas outros esportes recomendam recato, como tênis, esgrima e tiro, para não afetar a concentração. Sem grande afinidade com algumas modalidades, brasileiros vaiam a tudo e a todos que encontram pelo caminho – de juízes a atletas adversários. E muitos fazem a grosseria de não se levantar na hora dos hinos de outros países.
HONROSO QUARTO LUGAR
COMUNICAÇÃO
A incapacidade da grande maioria dos brasileiros de se expressar em outra língua surpreende e decepciona visitantes globalizados. Fora voluntários identificados com aviso de que falam inglês e recepções de hotel, achar alguém fluente é loteria. Apesar da Copa e da Olimpíada, a deficiência só mudará quando o país se convencer de que uma segunda língua é essencial para nosso desenvolvimento econômico e cultural.
*ZHESPORTES