Rousseau, um dos principais pensadores iluministas, dizia que as pessoas eram intrinsecamente boas ao nascerem. O que as desvirtuava era o meio social. No Brasil de 2016 se passa o mesmo. Os dirigentes públicos brasileiros não são melhores ou piores que seus pares em países menos corruptos: o problema é o gigantismo do aparato estatal, com suas teias que aprisionam a livre iniciativa com uma burocracia infernal, taxas sem fim e uma máquina governamental tão inchada quanto apetitosa para que as aranhas mordedoras estejam sempre bem alimentadas.
Ironicamente, para tentar manter o monstrengo na corrente, criam-se mais e mais estruturas públicas, mas foram incontáveis controladorias, auditorias, ouvidorias e fiscalizações que em última análise fracassaram na missão de impedir um megadesfalque como o da Petrobras. E aí é preciso convocar legiões de policiais, procuradores e juízes para limpar o que não precisaria ser limpo se os governos fossem mais enxutos e transparentes e, portanto, mais simples de controlar.
Quanto maior o Estado, maior o número de oportunidades para desvios e desperdícios. Não conheci sociedades mais corrompidas que as da União Soviética e de Cuba. Como tudo pertencia ao Estado o sentimento não era de posse coletiva, como sonhavam os marxistas, mas de que os bens públicos, na verdade, eram de ninguém. Assim, para obter material de construção, moscovitas paravam caminhões do governo nas ruas e subornavam ali mesmo os funcionários. Em Havana, vi os servidores de um hotel aproveitarem um dos tantos apagões para desviarem mantimentos para dezenas de parentes já à espera na calçada.
No Brasil, a corrupção só cresceu com a ode às estatais e a camada de proteção que elas obtiveram – agora entende-se por que políticos se digladiam para indicar um diretor de uma companhia elétrica no Nordeste. O infortúnio adicional é que, quando uma estatal vai bem, são poucos os que dividem as benesses, como na farra dos medicamentos da Petrobras. Quando vão mal, todo o país paga o pato. Em 1991, testemunhei uma batalha campal diante da Bolsa de Valores do Rio contra a privatização da Usiminas. A siderúrgica sangrava centenas de milhões de dólares de impostos ano após ano. Hoje, voltou a ser um abacaxi, mas, felizmente, a conta é tão-somente de seus investidores privados.
Os entes públicos foram de tal modo exauridos que já não se trata apenas de passar adiante o que for possível. Boa parte da parafernália estatal é constrangedoramente ineficaz, ultrapassada ou apenas inútil, sem nenhuma atratividade para a inciativa privada. Seria mais eficiente e barato pôr um lacre na porta e remanejar os funcionários para funções nas quais um governo responsável deveria depositar 100% de sua atenção: na redução das desigualdades, na saúde, educação e segurança, e em órgãos reguladores e de controle de primeira linha. A corrupção e a ineficiência enfim desabariam.
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