Cartagena - Quando o jornalismo começou a tomar forma, há cerca de quatro séculos, seu objetivo se restringia a apresentar ao público novidades e comentários sobre fatos desconhecidos do público ou do qual ele ouvira falar semanas ou meses antes. Foi assim, focado em levar novidades, que o jornalismo se converteu em necessidade de primeira ordem na vida das sociedades civilizadas.
A revelação de fatos segue sendo um elemento básico da atividade jornalística, mas dela agora se exige muito mais. Com a revolução digital, a produção de informação e opinião deixou ser um território exclusivo dos jornalistas: qualquer cidadão, governo, empresa, partido, entidade com acesso à internet tem potencialmente diante de si bilhões de pessoas para disseminar o que bem entenda, desde a foto de seu prato no restaurante ou a defesa de sua causa até ofensas e fatos distorcidos com a intenção de intimidar, confundir ou gerar desinformação.
Nesse cenário de abundância de conteúdos, é que o jornalismo profissional – aquele baseado em técnicas e ética aceita universalmente – ganha uma nova e nobre missão: no que se chama de "curadoria", selecionar para o público o que realmente é importante, desvendar o que permanece oculto e confrontar fatos e versões espalhados pelo mundo digital para daí extrair a verdade e retratar a realidade da forma mais fiel possível.
Batizado de "jornalismo do próximo nível", esse padrão assumido há anos pelos veículos da RBS e materializado pelo seu propósito esteve no centro das discussões do 22º Fórum Mundial de Editores realizado esta semana em Cartagena, na Colômbia, em conjunto com o 67º Congresso Mundial de Jornais. O fórum, o qual tenho a honra de presidir há um ano, aprovou um documento histórico para ser difundido em todas as redações do mundo com cinco recomendações sobre o que se espera deste jornalismo em novo patamar. Conhecê-las ajudará o público em todos os continentes a identificar a informação com ou sem certificado de origem:
1) Em um mundo de hiper-informação, credibilidade, independência, rigor, ética profissional, transparência e pluralismo são os valores que definem a relação de confiança com o público.
2) Jornalismo no próximo nível se distingue pelo questionamento e pela verificação do material que circula nas mídias sociais. Ele reconhece as redes como fontes de informações a serem conferidas e como plataforma para expandir o conteúdo profissional.
3) A missão do jornalismo nesse novo nível é servir positivamente a sociedade, fornecendo informações verificadas de alta qualidade, e estabelecer marcas jornalísticas como um certificado confiável de origem de conteúdo.
4) Uma exigência do jornalismo nesse nível é ir além de fatos básicos e permitir e incentivar a análise, a contextualização e a reportagem investigativa, além da opinião qualificada, evoluindo da divulgação de notícias para o conhecimento que empodera.
5) O jornalismo desse novo nível deve ser orientado pela confiança e pelos princípios de relevância social, interesses legítimos e veracidade.