E a história se materializou diante de nossos olhos, mas o que se assistiu no Senado e na Praça dos Três Poderes nos dois últimos dias não foi apenas o fim de um ciclo e um recorte dos extraordinários acontecimentos que se desenrolam no Brasil. Um outro extrato da história tem início hoje com o anúncio das primeiras medidas do governo Temer e da negociação para que o Congresso aprove reformas capazes de reverter a "queda livre da economia brasileira", como ele definiu no discurso de posse.
Mais do que o intrincado e previsível processo que o guindou ao poder, a prova de fogo de Michel Temer será vencer a histórica resistência dos congressistas em cortar despesas e convencê-los a desistir de distribuir agrados com dinheiro alheio.
Agripino Maia, senador do DEM e velha raposa política, disse à Rádio Gaúcha como a administração Temer deve ser encarada. "Esse é um governo de emergência", descreveu. Urgência e firmeza são uma combinação imprescindível para resgatar o país do fundo do poço da recessão, do desemprego e do descalabro das contas públicas, mas é preciso ir além e mudar a cultura política que trava o país.
Nos EUA, é o governo que quer gastar mais, e os congressistas que querem evitar mais despesas. Eles sabem que o contribuinte norte-americano não reelege quem desperdiça impostos. No Brasil, deputado nenhum gosta de aprovar algo que gere perdas ou retire poder de alguma corporação.
Que ninguém espere redução de impostos, aumentos para o funcionalismo ou queda imediata da taxa de juros. A chance de Temer ganhar um lugar na história depende de sua disposição, e de seus aliados, de trocar popularidade pelo que precisa ser feito, um erro que fez Dilma afundar o país e seu mandato.
O navio com as reformas terá de ser pilotado em águas revoltas, em meio a uma borrasca e com os canhões dos barcos do PT disparando um petardo atrás do outro. A indignação do petismo com o processo de impeachment impede no momento qualquer vislumbre de bonança no Congresso e nos aparelhos historicamente atrelados ao PT. Mas se o novo presidente vacilar, ou se sua base se vergar diante do apelo populista, os indicadores da economia entrarão num redemoinho que vai tragar Temer e, com ele, o que resta de estabilidade do país.
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