Há alguns dias, The New York Times publicou uma extensa reportagem que reconstitui as horas de medo e desespero vivenciadas por centenas de mulheres cercadas e agredidas sexualmente por uma multidão de algo como 1,5 mil homens, em sua imensa maioria de aparência estrangeira, nas cercanias da estação férrea de Colônia, na Alemanha, durante as comemorações do Ano-Novo.
As descrições e depoimentos de como mulheres de todas as idades, adolescentes inclusive, se viram repentinamente assediadas por bandos de homens bêbados se repetem desde o dia 1. Até o fim da semana passada, a polícia já contabilizara 653 queixas de estupros, agressões de cunho sexual e roubos naquela noite. De 19 agressores identificados, 10 buscam asilo na Alemanha. De outros 32 suspeitos, 22 haviam entrado no país na condição de refugiados.
As agressões vêm produzindo uma onda de protestos e uma crise política que já derrubou o chefe de Polícia de Colônia e pousou no colo da chanceler Angela Merkel, responsável pelas boas-vindas a 1 milhão de refugiados. A crise ganhou muitas facetas. Há desde os que alertam para o risco de generalização e de o ódio racial ser destampado no coração da Europa até grupos de extrema direita que incentivam abertamente a rejeição aos recém-chegados. E há uma imensa massa tão silenciosa quanto perplexa que, atormentada pelo passado nazista, não sabe o que pensar ou como reagir. Qualquer simplificação é perigosa aqui. Mas não há dúvida de que o sobressalto de Colônia, repetido em menor escala em outras cidades alemãs, lançou uma nuvem tóxica sobre a expectativa de integração dos imigrantes à sociedade europeia.
Na reportagem do Times, surge também um aspecto novo e especialmente chocante em todo o episódio: as mulheres que falam ao jornal só se identificam pelo primeiro nome, com medo de "represálias nas redes sociais". Ou seja, não basta que centenas de mulheres tenham sido atacadas: elas precisam agora se esconder dos que exigem seus silêncios e as acusam de semear a discórdia. Ocultar o sobrenome de entrevistados para protegê-los é um expediente corriqueiro usado pela imprensa em regimes de força. Que ele esteja sendo empregado na Europa de 2016 é um alerta para a longa mão da ditadura do politicamente correto que, à custa da defesa dos imigrantes, acaba avalizando a selvageria nas ruas de Colônia e sua extensão nas redes, vitimando duplamente as mulheres agredidas.