A sucessão dos fatos – denúncia, conchavo, discurso, julgamento – anda tão alucinatória que todos os textos ficam obsoletos tão logo sejam terminados. Escrevendo alguns dias atrás deste em que o prezado leitor corre os olhos agora, penso numa velha frase, usada em circunstâncias várias, sempre com verdade: "Um exército em retirada nunca é bem educado". Vale para Napoleão tentando escapar do inverno russo, assim como vale, com as devidas licenças, para o grupo de Temer agora.
Já que estamos perdidos, pensa o general em fuga, o negócio é aproveitar para esculhambar. Queima a pastagem, mata à toa, destrói as posições do oponente pelo simples gosto de atrapalhar, complica a vida dos que vêm em perseguição.
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Por uma impensada coincidência, li esses dias com atenção nova um clássico brasileiro agora esquecido, A Retirada da Laguna, de Alfredo Taunay, com primeira edição em 1871. O então jovem oficial acompanha um movimento frustrado do exército nacional, no contexto da guerra do Paraguai: a ideia era atacar pelo norte a nação guarani, quando o grosso da guerra se concentrava no sul, para causar embaraço às defesas, que teriam que lidar com duas frentes de batalha.
Sai tudo errado, e os brasileiros precisam recolher-se da pior maneira, sem mantimentos adequados, sem reposição de munição, com o exército paraguaio em seu encalço, e pior, assolados por uma epidemia de cólera que matou muitas dezenas de soldados e oficiais, à toa. Uma das cenas mais terríveis conta que nosso exército, em penúria, resolve romper um preceito básico das guerras, aquele que manda não abandonar companheiros feridos e adoentados ao inimigo.
Pois os brasileiros constataram que, sem comida, morreriam talvez todos, e por isso deixaram uns 130 coléricos totalmente desprotegidos, para morrerem como o acaso determinasse. Uma tristeza sem nome, um oco sem beira.