Não consegui dormir depois do Gre-Nal. Olhos no teto, pensamento numa só alma: Guerrero. Porque sinto por quem tenho carinho. O peruano veio para o Beira-Rio, esperou meses para a sua vez e encaixou no time. É carismático, as crianças o adoram. E, como pai fresco de dois, respeito sempre quem pimpolhos gostam.
E por gostar, angustio-me. Porque centroavantes matadores, artilheiros de Mundial de Clubes, ídolo de seleção, eles precisam de gol. E vivem de gols importantes. E a casa do gol mágico, daqueles que a idolatria aumenta, é o clássico.
Guerrero, infelizmente, ainda não conseguiu o seu. Mas conseguirá. Porque angústias futebolísticas existem para serem estraçalhadas. Guerrero vai marcar em Gre-Nal. Para isso, primeiro, o processo coletivo deve ajudá-lo. Porque todo mundo já aprendeu isso no esporte mais praticado do mundo: todo mundo ganha e todo mundo perde.
Segundo atributo Guerrero já consertou. Pararam as reclamações com a arbitragem sobre a marcação forte. Jogador diferenciado é mais marcado, tocado, empurrado. Zagueiros e defensores se preocupam com matadores.
Terceiro e último ponto: Kannemann e Geromel. A maior dupla de zaga da história gremista o marca bem. Mas, vejamos outros números: a mesma dupla levou uma dezena de gols do Flamengo. Ela é vazada por ataques do interior do Estado. Ela não é imbatível. Esse ferrolho que nunca perdeu um Gre-Nal tem essa estatística porque entendeu rapidamente algo que salva qualquer carreira futebolística no extremo Sul do Brasil: "Não podemos perder Gre-Nal". Essas aspas ouvi, no meu microfone da Atlântida, da boca de D'Alessandro. Foi na festa do título gaúcho de 2014, numa gélida Caxias do Sul, Estádio Centenário. O Inter acabara de massacrar o Grêmio, impiedosamente, por 4 a 1.
Geromel e Kannemann entenderam isso. Guerrero deve saber, claro. Mas já são sete clássicos, mais de 630 minutos, sem marcar. Isso não deixa apenas o atacante angustiado. Eu tenho a vida atrapalhada com esse jejum. Para alegria minha, dele e das crianças, esse gol precisa acontecer. E se o peruano acha que isso não é um problema na vida dele, aí, sim, há algo para nos preocupar.