Estou no espaço do David. Perfeito. Vou usá-lo com carinho. Começando dizendo que não concordo com tudo o que o David escreve aqui. Tem dias em que leio e penso: "Ele enlouqueceu?". Horas depois, estou no Timeline com ele e a Kelly Matos rindo, entrevistando pessoas e já esqueci que o David havia me irritado profundamente.
Mas concordo com o David em algumas coisas, claro. Exceto política, relacionamentos e futebol, no resto estou com ele! Um dia, o David disse que o Renato era melhor do que o Cristiano Ronaldo. Claro que já peguei um telefone e liguei para um amigo médico que tremia do outro lado da linha. Preocupação geral com a sanidade do David. Foi uma tarde muito dura para a gente.
Não sei se vocês já notaram isso lendo o David. E desculpa se eu revelar um segredo. Mas vamos lá. Pouca gente lê este espaço mesmo. Vou escrever bem baixinho, por favor, não espalhem: o David não gosta do Lula. E nem do Bolsonaro. Pronto, falei. Já li uns trezentos textos dele, ouvi uns cento e poucos comentários na rádio sobre isso. Não tem jeito. Ele não gosta dos caras. Desconfia que Lula sabia de tudo. E que Bolsonaro é um embuste. Esse David Coimbra é uma parada mesmo.
Eu e o David não concordamos em muitas coisas mesmo. E até por isso tudo, várias vezes penso: será que o David sabe que o considero um amigo para sempre?
Não entendi direito quando a editora Rosane Tremea me ligou. Foi no meio da tarde, eu estava na massagem e havia saído da sauna há minutos – atividades que David faz três vezes por semana na agora gélida Boston. Ela foi direta: "Queres escrever nas férias do David?". Eu mostrei uma mentirosa tranquilidade. Porque pensei: como vou colocar ideias de que o David discorda no espaço dele em Zero Hora e GaúchaZH? Foi aí que deu o estalo. Era a minha oportunidade de dizer o quanto pensamos diferente!
Teve um dia, "nas barbas do Atlântico", em Garopaba, entre taças de vinho branco, chopes cremosos e quitutes deliciosos, em que eu e o David discutimos forte. Estávamos bêbados. Acho que o assunto era Sergio Moro. Há uma lembrança de que discordávamos na discussão. Eu nunca tinha visto as veias do pescoço do David. Sim, leitorinhos. David fica furioso também. Sei que é difícil aquela cara sempre risonha se retorcer de raiva. Não lembro se eu ou ele defendia Moro – quem lê David pode solucionar essa dúvida. Quase nos estapeamos. Fomos separados por um brinde de novos copos cheios que chegavam à mesa.
Por tudo isso, por todas essas discussões, por todo esse histórico, por todos esses pontos de vista que não fecham, que aceitei estar escrevendo aqui. Todas as histórias aqui contadas são verdadeiras. Vou à Justiça defendê-las se precisar. Eu e David não concordamos em muitas coisas mesmo. E até por isso tudo, várias vezes penso: será que o David sabe que o considero um amigo para sempre? Será que ele sabe que o câncer dele me fez chorar várias vezes? Que cada vitória dessa batalha é um foguete de felicidade que estouro aqui no Hemisfério Sul? Ele consegue ver o quanto gosto do Bernardo? Será que ele lembra que eu ia para o chão brincar com o filho dele e abandonava os adultos porque nada naquelas noites era mais legal do que o Bê?
Será?
Discordo tanto do David. Gosto tanto do David. Certamente, nunca na história deste país houve uma amizade assim. Pode já ir se acostumando, David. Meu carinho por ti é inversamente proporcional a nossas discordâncias. Nada abala uma grande amizade.
Nem Lula, nem Bolsonaro. Nem nada.