Em um fluxo no qual os clubes brasileiros buscam solução nos técnicos estrangeiros, quando vemos um dos nossos se destacando fora, é preciso colocar um olhar mais atento. Esse é o caso de Jádson Vieira, gaúcho de Santana do Livramento que se tornou a novidade na temporada uruguaia.
O Boston River, um dos tantos clubes secundários de Montevidéu, disputa ponto a ponto com Peñarol e Nacional o título do Clausura. No Apertura, já havia ficado em quarto. A definição do campeão da temporada uruguaia vem através de uma fórmula um tanto complexa. Desconfio até de que aplicam a fórmula de báskara misturada com análise combinatória.
O fato é que o Boston River, ganhando o Clausura, se habilita à semifinal, contra o campeão do Apertura, o Peñarol. O vencedor enfrenta na decisão o líder da tabela anual (a soma do Apertura e do Clausura).
Hoje, o Peñarol lidera a Anual, com 78, contra 73 do Nacional. O Boston vem em terceiro, com 56. Mesmo que a vaga na decisão do título da temporada não venha, os resultados obtidos até aqui já fazem do gaúcho a revelação do ano no Uruguai.
Jádson Viera tem 43 anos e faz no clube de Montevidéu o seu primeiro trabalho como técnico. Para quem não se lembra dele, era um dos auxiliares de Cacique Medina no Inter, na rápida passagem do uruguaio por Porto Alegre.
No ano passado, Jádson decidiu alçar voo solo. A amizade, me conta por telefone, segue firme. Os dois conversam com frequência e sempre que as agendas coincidem.
Medina voltou ao Talleres, onde faz bom trabalho e tenta retomar o sucesso. Mesmo que seja gaúcho, Jádson é um profissional forjado nos campos uruguaios. Ainda garoto, foi descoberto por olheiros do Danubio atuando no futebol amador em Rivera.
Fez a base no clube, onde foi promovido por Jorge Fossati e compartilhou alguns treinos com Cavani, seis anos mais jovem, mas de talento precoce.
No Danubio, foi companheiro de Guli, irmão de Cavani e, hoje, seu empresário. Sua única passagem pelo Brasil como jogador foram sete meses no Vasco, em 2010.
A construção de Jádson como profissional foi toda em espanhol. Jogou no Nacional, no Lanús e no México. Isso se nota ao conversar com ele. O português vem pontuado por expressões em espanhol, o sotaque é carregado.
Como o mercado uruguaio tem pontes firmes com Argentina, Chile e México, a ótima campanha no Boston o coloca no radar desses mercados. Mas o brasileiro, carente de uma nova safra de técnicos e com bolso para pagar salários elevados, também o atrai.
Neste momento, no entanto, o plano está todo em se desenvolver no Boston. O clube é o caçula da primeira divisão. Viveu no amadorismo até 2006, quando subiu para a segunda divisão nacional.
Em 2009, se transformou em SAD, a SAF uruguaia. Os donos são dois nascidos no país sul-americano e um libanês naturalizado venezuelano, Edmundo Kabchi.
Filho de família milionária, dona de um grupo em que está um banco na Venezuela e também o clube espanhol Albacete, Kabchi é um dos agentes do zagueiro Ronald Araújo, cujo começo de carreira se deu no Boston.
O plano de negócio do clube, assim como o das demais SADs uruguaias, é descobrir novos Ronalds. O trabalho de sucesso de Jádson só aumenta essa chance.