Estou em Amsterdã em uma viagem parte do curso pelo qual estou aqui do outro lado do mundo. A cidade das bicicletas, da tulipas (no verão, não nesse fio congelante) e dos canais também é a do futebol. Respira-se muito o futebol por aqui. Mesmo com o Ajax em crise técnica e administrativa, estacionado na parte de baixo da tabela. Os holandeses são loucos pelo jogo, principalmente, se for o bem jogado, aquele de Cruyff, Gullit, Van Basten. Mas também gostam de questionar o sistema, cutucar o que está estabelecido, saber a razão de tudo. Vai ver é por isso que a sede da Fifpro seja aqui em Amsterdã.
Neste primeiro dia por aqui, fizemos uma visita seguida de uma longa palestra na Fifpro. Trata-se, numa definição rústica, o sindicado mundial dos jogadores. Talvez você não tenha de primeira o nome da entidade. Por uma razão simples: o Brasil, o país do futebol, não está na Fifpro. O Brasil, o maior exportador de talentos do mundo, está fora do mapa apresentado no auditório confortável, com poltronas coloridas e carpete macio. Alexandra Gómez Bruinewoud, diretora jurídica, me explicou ao final que há seis anos o Brasil está ausente. A saída, segundo ela, se deu porque uma questão dos direitos de imagem. A Fenapaf, a federação que congrega os sindicatos brasileiros, garantiu que teria os direitos. O que não se confirmou depois. Assim, se deu o rompimento.
Hoje, são 65 mil jogadores de 71 países representados. A Fifa reconheceu a força da Fifpro e, na última década, passou a trabalhar em conjunto. O trabalho consiste em apoiar jogadores em demandas, criar projetos para prepará-los visando à vida depois do futebol, discutir calendário, vigiar a questão das apostas, uma preocupação latente e, o principal, diminuir a desigualdade.
Hoje, 45% dos atletas da Fifpro recebem menos de US$ 1 mil mensais e 41% sofre com atrasos de pagamento. Os dados são de pesquisa feita com 13.945 atletas de 54 países. A desigualdade no futebol feminino é outra das principais bandeiras da entidade. São números que mostram o quanto o canto do cisne é desafinado na maioria das vezes. O Brasil poderia engrossar essas estatísticas. Mas, neste momento, está de fora, assim como a Rússia. Mas, essa, por razões que nem precisa explicar.