Carlo Ancelotti decidiu seguir na Espanha, no comando do Real Madrid, o time que é uma seleção. Eu, no lugar dele, faria o mesmo. Afinal, ele negociou com Ednaldo Rodrigues, entabulou uma vinda para o Brasil e, no meio do caminho, viu o presidente que o havia procurado ser afastado do cargo por uma ação movida na Justiça. Assim, a sucessão de Tite segue aberta, um ano depois da Copa. O novo técnico da Seleção, porém, dependerá de como terminarão as articulações políticas e de quem será o novo presidente da CBF no pleito de 8 janeiro. Mas há algo que já posso afirmar depois de alguns contatos: o nome de Renato voltou a ganhar força.
Neste momento, dois nomes disputam os votos das federações e clubes da Série A e B: o advogado carioca Flávio Zveiter e o presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos. A inscrição de uma candidatura requer a assinatura de oito federações e cinco clubes. Zveiter teria já 19 federações, segundo pessoas ligadas a ele. Se conseguisse mais uma, nem seria preciso eleição, já que restariam sete para Carneiro Bastos.
Uma fonte com conhecimento do ambiente político da CBF apontava o Amapá como o fiel da balança nessa corrida à presidência da CBF. Só que, no começo da noite, uma carta assinada por oito federações, incluindo o Amapá, e 30 clubes, entre eles Inter e Juventude, anunciou apoio à candidatura de Carneiro Bastos.
Caso Zveiter seja o novo presidente da CBF, há uma corrente dentro do seu bloco de apoio que defende com muita força o nome de Renato como novo técnico. Pela sua capacidade de gestão de vestiário e pelos avanços táticos que vem apresentando nesta última temporada no Grêmio. Dorival Júnior seria outro candidato com força. A possibilidade de um estrangeiro estaria praticamente descartada. O que tira Abel Ferreira da corrida.
O nome do português ganhará força somente se Carneiro Bastos ganhar a eleição. Ele larga na dianteira, já que conta com 24 votos das federações, 26 dos times da Série A e 17 da Série B. Para você entender, cada voto de federação tem peso três, de clube da Série A, dois, da Série B, um, o que dá um total de 67 votos. Como o colégio tem 141 votos, faltariam quatro para ele vencer a disputa.
O cenário eleitoral da CBF é um retrato fiel de como funcionam os bastidores políticos da entidade. Tanto Carneiro Bastos quanto Zveiter eram aliados de Ednaldo. O último, inclusive, havia sido escolhido como seu vice-presidente de Desenvolvimento e Projetos. Carneiro Bastos era um dos vices eleitos, na chapa Pacificação e Purificação do Futebol Brasileiro, guindada ao poder em março de 2022. Pesa contra ele a resistência que boa parte das federações teria pelo retorno de um comando paulista na CBF. Mesmo que Carneiro Bastos tenha sido preterido por Marco Polo del Nero lá em 2018, quando esse definiu que Rogério Caboclo seria o novo presidente. O receio de que Del Nero volte a ter força com um comando paulista estaria entre as razões para que as federações se inclinassem por Zveiter.
Carneiro Bastos, com o apoio das oito federações, proporcionará à CBF sua primeira eleição com dois candidatos desde 1989. Naquele ano, o carioca Ricardo Teixeira, apadrinhado por João Havelange, seu sogro, venceu Nabi Abi-Chedid, nome ligado aos paulistas. A dinastia de Teixeira durou 23 anos. Acabou em 2012, quando renunciou. Seu nome apareceu entre os dirigentes envolvidos nos escândalos da Fifa.
A partir daí, a CBF passou por várias mãos e alterou entre páginas de Espores e de Polícia. Uma rápida cronologia:
- 2012: José Maria Marin, vice mais velho, assumiu no lugar de Teixeira.
- 2014: Marco Polo del Nero é eleito sucessor. Assumiu em 2015 e ficou 231 dias no cargo. Ele e Marin foram indiciados numa investigação do FBI sobre pagamento de propinas de empresas de marketing na negociação dos direitos da Copa de 2014 e da Copa América. Marin foi preso nos EUA. Del Nero foi banido pela Fifa (em 2021, a punição foi reduzida para 20 anos de suspensão).
- 2016: com o afastamento de Del Nero, o paraense Coronel Nunes assume o comando, como vice mais velho. Volta em 2017 e fica até 2019.
- 2019: mesmo fora do poder, ele fez seu sucessor, Rogério Caboclo, na eleição de 2017. Esse acabou afastado do cargo em 2021, depois de denúncia de assédio sexual feito por uma funcionária da CBF. Ednaldo assumiu em seu lugar, com a missão de completar o mandato até o final de 2023. Fez um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o MP, convocou eleições e se tornou o presidente até 2026. Foi esse TAC que acabou anulado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no começo de dezembro e o tirou do cargo.
Nos últimos 11 anos, a CBF teve seis ocupantes da cadeira de presidente. O que dá um bom retrato do quanto o ambiente político da CBF é intenso, e os bastidores, um emaranhado. Será desse nó que será desatado no próximo dia 8 que sairá o novo técnico da Seleção.