Será uma noite desafiadora a do Grêmio no calor de Natal. Menos pelo ABC, afinal é inquestionável o favoritismo dos gaúchos, e muito mais pelo contexto em que se apresenta a partida. Renato atravessou o Brasil sem Suárez, a estrela da sua companhia, e sem Carballo.
Como já estava sem Pepê, se apresenta ao técnico o mesmo obstáculo das partidas contra Ypiranga, na Arena, e Caxias, no Centenário. Sem Pepê e Carballo, há uma perda de conexão entre a defesa e os meias. Villasanti é mais condutor, e Lucas Silva, mais circulador de bola.
O que faz com que Cristaldo, Bitello e Vina, a linha de três meias, a recebam muitas vezes em ligações diretas, para disputar com marcadores. Quanto à baixa de Suárez, é autoexplicativa e agravada pelo fato de, neste momento, não haver um reserva pronto para entrar.
André, o garoto trazido do Hercílio Luz, recém chegou e se trata de um projeto de futuro. Galdino, apesar de todo esforço, não é do lugar. O que pode fazer com que Renato adiante Vina e coloque o novato Nathan desde o princípio.
Acrescente-se a essas dificuldades o fato de o Grêmio enfrentar adversário embalado e em lua de mel. O ABC foi campeão estadual pela 57ª vez, o que faz a torcida se exibir como "o maior campeão do mundo" — na verdade, é o time que mais ganhou um mesmo título no planeta.
Na Copa do Nordeste, chegou à semifinal e caiu para o Sport. O clube, o mais popular do Rio Grande do Norte, fez um caminho de volta nos últimos dois anos. Saiu da Série D em 2021 para a Série B neste ano. Ou seja, a torcida mal cabe em si de orgulho.
O ambiente será de pressão. Todos os 15 mil lugares foram vendidos. O Frasqueirão é um trunfo do ABC. A torcida fica próxima do campo e cria uma cenário um tanto inóspito para os visitantes. Aliás, o estádio vale um capítulo à parte.
Mesmo com a Arena das Dunas, estádio de Copa do Mundo, o clube costuma mandar seus jogos no seu estádio, situado na Rota do Sol, avenida que leva à Ponta Negra, destino dos turistas, endereço das praias, das baladas e dos mais abastados.
Apesar do nome e do formato lembrar o de uma frasqueira gigante, a origem do apelido do estádio está em uma provocação dos adversários, que chamavam os torcedores do ABC de "fraqueira". Como se trata do clube do povo no Rio Grande do Norte, seus jogos costumavam sempre lotar.
Com isso, as arquibancadas ficavam abarrotadas e muitos torcedores acabavam em pé nos acessos. Como se fossem remédios enfileirados numa frasqueira. Porém, o apelido tem também um viés pontuado pelo preconceito: frasqueira, segundo historiadores, era como se chamava o local onde eram transportados os escravos nos navios negreiros.
O ABC adotou o apelido e fez dele o codinome do estádio, batizado Maria Lamas Farache, uma das mais ilustres torcedoras do clube, empresária chilena e mulher do ex-treinador do ABC Vicente Farache. Pois será nesse Frasqueirão, cheio de história em seus 16 anos de vida, que o Grêmio começará a buscar a vaga nas oitavas da Copa do Brasil. É, repito, o grande favorito.
Mas o contexto e um adversário embalado estão entre esse favoritismo e a confirmação dele.