Deu a lógica. Embora em alguns momentos do jogo parecesse que estivesse com a cabeça em Paris, a França fez valer seu melhor nível e venceu por 2 a 1 a Inglaterra. Esteve longe de ser fácil. Kane, o centroavante com título concedido pela família real, perdeu um pênalti a 10 minutos do final, que poderia ter levado o jogo para a prorrogação.
Só que isso não esconde a realidade do momento: a França é melhor. Do que todos os outros semifinalistas. Porque tem o melhor jogador, melhor conjunto e está dotada da maturidade de um time que, em boa parte, já chegou aqui ao Catar com uma Copa na mala.
A Inglaterra até me surpreendeu aqui no assento A do desk 103, no alto das tribunas de imprensa. Jogou melhor por dois terços do jogo. Criou mais, defendeu-se melhor, submeteu a França ao seu jogo, de viradas de bola, de extremas insinuantes, Saka e Foden, de um Kane que joga com tanta inteligência tática que é como se tivesse o cérebro nos pés.
Sua defesa foi sólida e soube como dobrar a marcação em Mbappé e vigiar Griezmann, hoje um meia movediço, que corre por trás dos atacantes à procura do passe perfeito. Porém, a França parece ter um botão que Didier Deschamps aciona para ligá-la. Quando estava 1 a 1 e o campo mostrava que a Inglaterra estava mais perto do segundo gol, os franceses voltaram para Al Bayt.
O estádio não é uma Paris, mas é dos mais deslumbrantes que já vi nessa vida atrás da notícia e dos gols. O formato de tenda, os tecidos com motivos árabes importados de ateliers turcos, o luxo dos passeios que nos fazem perguntar se estamos em um estádio ou shopping de luxo fazem dele endereço seis estrelas do futebol.
Foi nesse cenário que a França desembarcou de volta no jogo e resolveu com um futebol à altura do cenário. Griezmann voltou a jogar, Mbappé, a arrastar marcadores. O gol foi assim.
Saka deixou de fazer a dobra na marcação, Mbappé escapou e criou a jogada que acabou em escanteio. Na sequência da cobrança, Griezmann colocou na cabeça de Giroud, um nove clássico. Ele cabeceou como manda o manual, torneando. Nem um fio de cabelo do topete descolorido saiu do lugar.
Era um clássico, com história e diferenças alimentadas ao longo dos séculos, pela geopolítica e pelas quedas de braço imperiais. Foi tão quente que, em muitos momentos, o árbitro Wilton Pereira Sampaio se sentiu em jogo do Brasileirão.
A cada marcação, era cercado. A cada disputa, os reservas corriam para a beira do campo. Um clima quente. Sem deslealdade, mas renhido. Foi um jogaço. O Al Bayt, uma obra de arte em formato de estádio no meio do nada em Al Khor, merecia esse jogaço. Em que a melhor seleção ganhou.