Em Sevilha, quando uma criança nasce, há duas disputas familiares: qual irmandade ela representará nas procissões da Semana Santa e se vestirá o vermelho do Sevilla ou o verde do Bétis. As irmandades são associações religiosas que fazem do intervalo entre os domingos de Ramos e de Páscoa uma das datas mais festejadas no sul da Espanha. Existem mais de 60 na capital da Andaluzia. Festejos que só a rivalidade o encontro entre Sevilla e Bétis consegue mobilização parecida.
Por isso, não foi de graça que o Derbi de Sevilha foi escolhido pela La Liga para a retomada do futebol na Espanha nesta quinta-feira (11). A entidade criada pelos clubes e que organiza com olhar empresarial o campeonato nacional precisava de um grande produto para mostrar ao mundo o que pode entregar de futebol aos fãs nesses dias de pandemia.
Sevilha é uma cidade quente, de espírito - pelo som do flamenco, pelas touradas e pela história que carrega - e pelo clima. Esses últimos dias de primavera são o limite antes da chegada daqueles dias em que parece ter um sol para cada um. O alto do verão tem temperaturas que giram facilmente em torno dos 40ºC. É tanto calor que nessa época a siesta se torna quase obrigatória, ate porque a vida ali dá uma pausa entre o almoço e as 16h.
Nesta noite (para eles), o Campeonato Espanhol será retomado com temperatura na casa dos 25ºC. O que é nada perto do que veremos no Benito Villamarín, a casa do Betis. São mais de 100 anos de rivalidade e diferenças. O Sevilla, mais velho, foi fundado em 1890, pelos ricos da cidade. O Betis veio 19 anos depois para abraçar os excluídos daquela festa de ricos. Apenas três quilômetros separam os dois estádios. Porém, a distância entre as torcidas é de um mundo inteiro. Os vermelhos ficam em Nervión, os verdes em Heliópolis. São vizinhos, estão no mesmo lado da margem do Rio Guadalquivir. Mas não os convidem para a mesma mesa. Ou convidem, como fez a La Liga. Afinal, depois de tudo pelo que passou a Espanha com o coronavírus, é preciso mesmo celebrar o futebol. E nada melhor do que um clássico centenário de uma cidade cheia de história, que foi Hispalis para os romanos, Isbilya para os mouros e hoje será sinônimo de futebol para o mundo.