Eu me lembro como se fosse hoje daquele Grêmio x Corinthians, em julho, pelo Campeonato Brasileiro. Estávamos em casa, assistindo à partida, válida pela 19ª rodada. Gabriel brincava no chão com seu séquito de fiéis brinquedos espalhados pelo tapete quando, com um minuto de jogo, Soteldo avança em direção à linha de fundo, cruza a bola para a área e Rodrigo Ely sobe mais alto do que todo mundo. Placar aberto. Grêmio 1 a 0.
A razão da minha lembrança tem mais a ver com o que aconteceu no tapete do que no Itaquerão. Gabriel ainda estava aprendendo a dizer suas primeiras palavras. Ao ouvir o narrador e assistir à vibração da torcida no estádio, ganhou coragem. Largou um sonoro e inesquecível:
— GOOOOOOOOL!
Vibrei como se fosse Copa do Mundo. Lembro-me de contar o feito ao presidente Duda Kroeff e dividir que talvez eu tivesse que comprar uma camiseta azul para o pequeno. A Maria Fernanda, filha mais nova do Duda, já havia ido ao estádio fardada de tricolor como o pai. Eu, ao contrário do presidente, resistia à ideia de levar o Gabriel ao estádio. Sempre tive receio, não da violência do ambiente, mas de como poderia ser a reação de torcedores já que meu marido é repórter de futebol. Diriam que o filho do Gabardo é dessa ou daquela cor, inundariam nossas redes sociais com ataques. Quem controla o horror das redes? Contudo, comecei a pensar na possibilidade ao saber que o jogo do Inter contra o Flamengo seria realizado às 19h da última quarta-feira (30), um horário em que ainda haveria sol. Levar o pequeno ao estádio sozinha cheirava a perrengue, mas seria a oportunidade também de mostrar, de pertinho, como funciona o trabalho do papai.
Bem, preciso dizer, eu não estava preparada para ver a felicidade que tomaria conta daquela criança. Primeiro que os olhinhos brilharam e os minúsculos dentinhos formaram o maior sorriso quando ele percebeu que o papai estava segurando o microfone atrás do gol! Depois, foi mágico testemunhar a reação ao colorido dos fogos de artifício e a explosão de 40 mil torcedores no momento do gol. Isso sem falar nas mãozinhas pra cima tentando imitar os gestos da torcida em volta.
O “Coração do Gigante” se fez coração de mãe. Eu me emocionei. E quis congelar aquele instante. O saldo: agora tenho que lidar com um mini-homem que estica o bracinho pra frente e pra trás, como que repetindo o gesto da torcida, toda vez que alguém diz “olé, olé”. Se tem coisa mais sensacional do que essa, desconheço. David Coimbra tinha razão: a vida é boa demais.