Era manhã de sexta-feira, restando duas semanas para a realização do segundo turno, quando dois candidatos ao governo do Estado se puseram sentados, frente a frente, no estúdio da Rádio Gaúcha, para discutir propostas para o futuro do Rio Grande do Sul. Um deles havia passado ao segundo turno em primeiro lugar, surpreendendo por ter tomado a dianteira do páreo na reta final. O outro quase ficou de fora da disputa, por uma diferença de pouco mais de 2 mil votos sobre o terceiro colocado.
Ao final daquele embate duro, os dois se posicionaram para as lentes do repórter fotográfico Mateus Bruxel, como é de praxe, quando a mediadora, jornalista Andressa Xavier, sugeriu que houvesse um aperto de mão entre eles. Não haveria razão para que aquele momento se tornasse notícia, não fosse a decisão de um dos candidatos de recusar o gesto cordial. Resultado: uma mão solitária estendida no ar, em uma imagem que estampou a capa de jornais como O Globo e Folha de S.Paulo.
O primeiro turno encerrado ontem na capital gaúcha tem uma vencedora: a civilidade
Aliás, esse mesmo embate nos permite lembrar outro episódio lamentável daquela disputa. O primeiro questionamento do duelo se deu por conta de uma insinuação homofóbica veiculada na propaganda eleitoral. A peça trazia um dos candidatos exaltando sua esposa, dizendo que, caso ele fosse eleito, o Rio Grande do Sul teria “uma primeira-dama de verdade”. Uma clara referência ao fato de o oponente ser casado com um homem. Na ocasião, a colunista Rosane de Oliveira afirmou que o fato “rebaixava” a campanha ao levar para os meios de comunicação a “homofobia latente nos bastidores”.
Cito dois episódios de 2022, mas poderia lembrar outros casos, inclusive da campanha à prefeitura de Porto Alegre em 2020, quando um carro de som associou, de forma baixa e inaceitável, uma possível vitória de Manuela d’Ávila à população comer carne de cachorro. Ou ainda, nesta atual eleição, o que ocorreu em São Paulo, onde a baixaria produziu um debate interrompido por uma agressão física, além do soco que deixou o rosto de um marqueteiro tomado de sangue.
Tudo isso para dizer que o primeiro turno encerrado ontem na capital gaúcha tem uma vencedora: a civilidade. Um observador apressado poderia argumentar que isto é o mínimo, não há motivo para celebração. Mas, em tempos de cadeiradas, é importante registrar, sim, que o respeito prevaleceu, a despeito das divergências. Saem fortalecidos a democracia e o eleitor.