As últimas semanas foram difíceis demais. Nem bem havíamos nos recuperado do caso de uma criança de 11 anos estuprada em Santa Catarina e veio à tona a sequência de violências cometida contra a atriz Klara Castanho. Um estupro, a exposição de um momento íntimo e dolorido e uma rajada de julgamentos de gente sem um pingo de empatia pelo próximo.
Onde foi que nos perdemos?
Há tempos nós dizemos que é preciso respeito. Respeito à mulher que quer sair para trabalhar, em busca de dignidade para sua família, e sequer encontra vaga nas creches.
Respeito àquela que luta para viver sua orientação sexual e, em troca, é violentada.
Respeito à mulher que se insurge contra a violência praticada pelo ex-companheiro e que, em mais de um caso, paga com a própria vida por um crime que não cometeu.
Por que, afinal, insistimos em penalizar as mulheres?
Se decide desfrutar do direito — previsto em lei — à licença-maternidade, tem que ouvir de um colega parlamentar que está "abusando de um privilégio" e, por isso, deveria devolver seu salário? Sim, aconteceu com a deputada Any Ortiz. Em plena Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Se precisa, por recomendação médica, submeter-se a uma cesariana após 26 horas de trabalho de parto, é aceitável ser criticada e ter um momento íntimo exposto por uma médica que sequer respeitou o direito à privacidade? Sim, aconteceu com a ex-deputada Manuela D'Ávila.
Todos os dias alguém, por gestos ou palavras, insiste em dizer que nós, mulheres, não podemos. Não devemos. Que somos menos. A tristeza é que tudo indica que o mundo insistirá nessa violência contra nós. A certeza é de que, apesar de tudo, nós continuaremos lutando.