O ex-presidente da República Michel Temer participou do podcast Descomplica, de GZH, em episódio publicado nesta terça-feira (17). Temer avaliou o cenário político nacional e a gestão Bolsonaro na pandemia — inclusive o episódio em que atuou para conter uma crise institucional entre o Executivo e o Judiciário, em setembro do ano passado.
Temer, que foi presidente da Câmara por três vezes, também fez uma leitura sobre os nomes colocado para a disputa à Presidência da República em 2022. Inclusive, sobre a campanha do ex-presidente Lula (PT) e rumores de que a imagem de Dilma estaria sendo "escondida" das ações petistas. A polêmica mais recente diz respeito a ausência da petista no jantar da chapa "Lula Alckmin".
Em dezembro, a colunista Malu Gaspar, de O Globo, informou que Dilma disse a amigos ter sido excluída da reunião, quando a questionaram sobre sua ausência no evento. Ela confessou ter ficado surpresa com a falta de convite.
Ouça o episódio com Michel Temer aqui em GZH e no Spotify.
Temer, que foi vice de Dilma e rompeu com a petista no episódio que culminou com o afastamento da então presidente, defendeu o legado da ex-chefe do Executivo.
— Não há razão (para o PT esconder a ex-presidente Dilma). Ela foi presidente da República, ela tem seus adeptos. Acho que ela pode colaborar com a campanha. Vou dar meu palpite aqui com muito cuidado. É um equívoco ignorá-la. Ela tem presença. E tem uma presença também nacional e acho que pode ser utilizada.
Bolsonaro e a pandemia
"O presidente perdeu uma grande oportunidade. Se no começo da pandemia ele tivesse centralizado todas as atividades, ou seja chamaria os governadores, os presidentes de partido, os chefes dos Poderes, até a oposição, eu acho que ele faria uma grande reunião nacional, importaria as vacinas, visitaria os Estados. Se ele tivesse feito isso, eu digo a você, acho que hoje dificilmente alguém tiraria a reeleição dele".
Presidente contra a vacina
"É curioso notar que o inimigo do presidente (Bolsonaro) hoje é a vacina. Pelo negativismo, pelo que ele diz de negativo em relação à vacina. Eu pessoalmente, vou dizer o óbvio, acompanho a ciência. E a ciência tem dito que a vacinação é importante. Aliás, muito a propósito, nessa última fase, com a variante ômicron, as pessoas que se vacinaram duas a três vezes, quando pegam o covid, pegam de uma forma muito suave. Eu acho que a vacina efetivamente deu resultado".
Credibilidade e ajuste fiscal
"No início do governo, ele realmente deu continuidade a tudo aquilo que nós vínhamos fazendo (ajuste fiscal). Mas depois, em face da pandemia, eu reconheço que houve uma modificação de postura econômica".
Decreto que tira poderes de Guedes
"Eu creio que deve ter havido uma conversa. Pelo menos da minha experiência. Eu tenho a impressão de que eles ajustaram essa fórmula. Tenho a impressão que houve um acordo entre eles (Bolsonaro, Ciro Nogueira, Paulo Guedes)".
Pesquisas: Lula x Bolsonaro
"Eu acho que na verdade os votos, nos últimos tempos, têm sido votos contra. No tempo do Bolsonaro, foi assim. As pessoas não queriam o PT e votaram contra o PT. Agora, quem não quer o Bolsonaro está votando no ex-presidente Lula, ou outra hipótese. Eu acho que nós precisamos caminhar para um sistema em que se "vote a favor". É preciso que as candidaturas apresentem os seus programas. Hoje, as pessoas optam por uma candidatura porque é contra o outro. Mas digo que ainda é muito cedo para uma avaliação definitiva".
Terceira via
"Eu acho que ainda há espaço. Por mais que as pessoas estejam levadas pelo fato de que, no início, a chamada terceira via supunha a hipótese de várias pré-candidaturas que depois se reuniriam numa única candidatura. E hoje se vê que os pré-candidatos são todos candidatos. Isso vai pulverizar o voto na chamada terceira via, e aí sim se mantém a polarização. Mas não é improvável que ao longo do período as pessoas percebam que seja necessária uma única via. Pode vir acontecer. E digo: seria útil que acontecesse".
O tamanho de Sergio Moro
"Ele tem (o tamanho) que as pesquisas estão revelando hoje. Tem 9% a 10%, alguma coisa assim. (9%, segundo a última pesquisa do Datafolha)
Diziam que logo chegaria a 20%, a 25%, e não se deu isso. Agora se você me perguntar se isso vai continuar até a eleição, é muito cedo dizer o que vai acontecer".
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"Agora o que é preciso, com toda a franqueza, é que as pessoas preguem uma certa pacificação no país, uma harmonia entre os Poderes, especialmente uma harmonia entre os brasileiros. Porque nós vamos entrar numa clima eleitoral de uma combatividade. E uma combatividade que pode ficar ora no plano das ideias, dos programas, mas pode resvalar pro plano pessoal. E resvalar pro plano pessoal é algo muito sério e algo que precisamos evitar".
Chamado para ajudar Bolsonaro
"Não me arrependo (de ter agido), porque eu levei a sério o cumprimento da Constituição Federal. É a Constituição que determina a harmonia entre os Poderes. Portanto, um diálogo muito frutífero entre os Poderes. E naquele momento eu fui chamado para fazer isso e acabei fazendo. Começou às 20h de um dia e terminou às 15h do outro. Nada mais se fez do que cumprir a Constituição. E naquele momento deu resultado. Nós evitamos uma grande conflagração até de natureza civil que poderia ocorrer".
Mas Bolsonaro continuou atacando os ministros do STF...
"Ele segurou por uns três meses e meio mais ou menos (risos). E agora, de fato, disse uma coisa que, a meu modo de ver, não é útil".
(Bolsonaro se referiu a Alexandre de Moraes e Barroso: "Quem esses dois pensam que são?)
PT e Dilma na campanha de Lula
"Eu não vou dar palpite no PT, né. Mas eu acho que não há razão (para o PT esconder a ex-presidente Dilma). Ela foi presidente da República, ela tem seus adeptos. Acho que ela pode colaborar com a campanha. Vou dar meu palpite aqui, com muito cuidado. É um equívoco ignorá-la. Ela tem presença. E tem uma presença também nacional e acho que pode ser utilizada".