Se um extraterrestre (aquele do filme do Spielberg) descesse hoje à Terra e perguntasse sobre quem tomou a decisão sobre não fornecer instrumentos que visam a dignidade menstrual das mulheres, a gente talvez precisasse de algumas boas horas para explicar que, sim, foi um homem.
Um homem? É.
Mas ele menstrua? Não.
Mas ele já passou por algum constrangimento por estar menstruado? Ahn.. Er... Também não.
Então por que um homem? Bem, é que ele é o chefe.
Mas chefe de quem? Da nação.
E a nação não é formada por homens e mulheres? É.
Mas então por que o homem decide? Olha, é que ele... Você sabia que a gente inventou um aplicativo no celular que a gente pode pedir comida agora mesmo?
O veto do presidente da República ao projeto que previa distribuição de absorventes a mulheres de baixa renda ao menos fez com que parássemos para refletir sobre um tema urgente: pobreza menstrual. Não é exclusividade do Brasil. É um assunto discutido pelas Nações Unidas.
No mundo, meninas sentem vergonha, faltam aulas, enfrentam dúvidas, porque simplesmente não têm acesso a itens básicos de higiene, como por exemplo o absorvente. Como mostrou a repórter Kathlyn Moreira, "o que deveria ser um direito de higiene básico, se torna motivo de vergonha e pode até oferecer riscos à saúde pela falta de informação e de infraestrutura em casa".
No Brasil, em comunidades mais pobres, as famílias sequer têm acesso à agua encanada, o que torna a vida dessas meninas ainda mais difícil durante o período menstrual. Relatório divulgado em maio pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) evidencia que 713 mil meninas vivem no Brasil sem acesso a banheiro ou chuveiro.
Não é luxo. É básico. Não é frescura. É dignidade.
Mostoru a reportagem de GZH que um estudo coordenado pela antropóloga Mirian Goldemberg (UFRJ) mostra que uma em cada quatro jovens brasileiras já faltou à escola por não ter dinheiro para comprar absorvente. É inadmissível.
Se atinge milhares de meninas, está mais do que na hora de pararmos para pensar sobre o tema sob a perspectiva de formulação de políticas públicas. É para isso que os governantes são eleitos. Para tornar melhor a vida da população.