Eu estava no carro ouvindo a Rádio Gaúcha quando o Luciano Périco passou a bola para o talentoso Eduardo Matos, que traria a notícia que a gente de alguma forma sabia, mas não queria ouvir. Depois de uma semana de buscas, encontraram o corpo de um dos bombeiros que estava em serviço quando morreu, muito provavelmente atingido pela estrutura que desabou no incêndio do prédio da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. Era o tenente Almeida. Gravei esse nome.
Pouco depois seria a hora de ratificar a identidade de mais um corpo localizado. Desta vez, o sargento Munhós.
Sei que jornalista tem que se distanciar da notícia, aprendemos isso ainda na faculdade, mas foi com nó na garganta que ouvi o relatar das autoridades. Não sei se porque estamos há mais de ano recebendo notícias tristes, de morte de centenas de milhares de brasileiros, ou porque há menos de uma semana eu também me despedi de uma pessoa próxima, de apenas 21 anos.
O fato é que, a despeito dos manuais, me coloquei no lugar das famílias que muito provavelmente não estivessem preparadas para dizer adeus.
Quem eram aqueles bombeiros? Como estariam seus familiares e amigos ao receber a notícia que ninguém quer ouvir? A esposa do tenente havia lhe dado um beijo antes que saísse para o trabalho? Os filhos conseguiram dizer eu te amo ao pai? Será que o sargento havia vivido uma boa semana antes de partir rumo ao prédio da segurança? Ou as dores do dia a dia, talvez, lhe afligissem? Por que Deus decidiu levá-los justo agora em que mais carecemos de pessoas dispostas a ajudar o próximo?
São perguntas que me faço toda a vez que recebo a notícia de que alguém querido partiu nesse um ano e meio em que vivemos angustiados frente à pandemia de coronavírus.
Semana passada, foi a Luiza, vítima de um câncer. Na outra, o tio Saul, o ouvinte mais assíduo da Rádio Gaúcha, por complicações da covid. Há poucos meses foi o velório da Tereza, a pessoa mais generosa do mundo. Nunca trabalhava para ela, sempre para o mais necessitado. Lembro que no velório me dirigi ao companheiro de uma vida e, contrariando os protocolos, abracei. Não consegui segurar. E disse a ele que talvez o cara lá de cima estivesse precisando de gente muito boa de coração para ajudar a recepcionar os que chegavam e ainda chegarão. É difícil explicar.
O texto de hoje, por ora, não fala sobre fundão eleitoral, ameaça de ministro militar ou centrão ganhando cargos no governo em troca de votos. Mas sobre a dor que nos acompanha quando alguém que fazia o bem se vai. E sobre nossa insignificância diante dos destinos da vida.
Que Deus conforte os familiares. Meu coração também está com vocês.